sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Pães, batatas e armas de fogo: alimentos de um sistema-mundo capitalista





Mais uma chacina recente ocorrida em escola estadunidense de Sandy Hook, em Newtown, (re) coloca em discussão a relação existente entre violência crimes e circulação de armas de fogo.

As tragédias de morte com uso de arma de fogo  se sucedem em histórico preocupante tendo como palco predominante escolas,  agências de socialização como as famílias para aquisição de modos, costumes e recursos para melhor convívio em sociedade.

O Massacre de Columbine, registrado com maestria na lente do Diretor Michael Moore, ocorreu em 1999 e dali para diante nada mudou.

Assim como, apesar da ignorância (ingênua e feliz) de muitos,  lamentavelmente  vivemos numa narcodemocracia, - ou seja, as drogas integram o agir estatal, que diante delas só sabe reagir repressivamente e sempre por intermédio do uso banalizante do direito penal para auferir seus dividendos de capital, para atender a demanda de quem interessa um proibicionismo quase sem limites, - as armas também integram uma estrutura econômica de um capitalismo de mercado destrutivo e aniquilador.

Será mesmo novos tempos para uma nova política de controle de armas? Really new time for changes in gun control? I don’t think so.

É impressionante a capacidade da sociedade estadunidense encontrar motivos no cinema, na televisão e até mesmo (pasme-se) em jogos de vídeo-game para, diante de causas plurais e complexas, atribuir culpa de uma cultura nefasta doentia absolutamente armamentista não só predatória da natureza, mas ceifadora de vidas humanas em progressão geométrica.

Realmente não há como receber de outro modo a notícia risível de que certas autoridades estadunidenses passaram a defender a necessidade de segurança armada nas escolas e não propriamente a restrição drástica do critério de mercado que estimula e permite que haja compra e venda de drogas mais ou menos como ocorre com pães e batatas.

A solução é coerente, claro. Para resolver o problema do mercado, dê-se mais mercado.  Ao invés de se restringir os lucros e a “mais-valia” de quem fatura dinheiro às custas da eliminação em massa de vidas alheias por disseminação da violência, aproveita-se a oportunidade para aumentar ainda mais a sensação irrazoável e muitas vezes paranóica de insegurança (já bem alertada por Bauman) cuja demanda, evidente, movimenta uma economia cada vez mais ética e mais distante do paradigma da conservação e incremento da vida (para lembrar Dussel).

Do mesmo modo que pães e batatas  são alimentos que faltam a pobres e loucos de fome que somam mais de um bilhão de pessoas no mundo (que ainda um dia há de acabar por conta disso e não por crenças cosmogônicas ou teológicas infundadas e assimiladas com irritante espaço nos alienantes meios de comunicação social massivos), em verdade o comércio de armas e munições nos Estados Unidos (e daí para o mundo na guerra perdida do narcotráfico) nada mais é do que o alimento de um sistema-mundo doente por uma economia com apetite cada vez mais voraz de destruir subjetividades e projetos democráticos de um respeito efetivo ao paradigma de direitos humanos, que vai longe de algo puramente ocidental, democrático ou capitalista.