terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Relatos salvajes...Wild tales...civilização e barbárie


Que tal "coincidentemente" reunir todos aqueles que lhe causaram algum mal em um avião? Pasternak.
Encontrar o agiota que arruinou sua família em plena campanha política? Las ratas.
Fazer da estrada o espaço para uma mortal luta de classes? El más fuerte.
Explodir o carro teimosa e repetidamente guinchado indevidamente para chamar atenção para o modo de funcionamento do sistema em protesto à burocracia que por vezes nos faz motivo de deboche? La bombita.
Negociar sem limites para proteger o filho criminoso? La propuesta
Sair das aparências à essência de um casamento? Hasta que la muerte nos separe.

Seis histórias de um mundo cada vez mais cruel, intolerante e selvagem. Injusto.

Escolhas certas ou erradas que cobram suas consequências na montanha russa instável que é a vida nas suas inexoráveis contradições cotidianas, contemplando frustrações, ofensas, cobranças,  irritações, corrupção etc.

Vingança, dinheiro, ganância, traição e honra como alguns pontos comuns de um filme certamente diferenciado.

Apesar de toda a nossa celebrada racionalidade que nos distingue dos animais, como ensina Nietzsche, a verdade é que somos “humanos, demasiado humanos” e por vezes estamos no limite e sujeitos a explodirmos em situações cumulativas ou particularmente desconcertantes.

Da ordem ao caos pode mediar muito pouco, do mesmo modo da covardia à coragem. Todos podemos perder el control...

Tudo depende da perspectiva da câmera, dos lado e dos ângulos da história, dos limites éticos e morais que nos colocam à prova em situações-limite.

Mérito para a Direção genial de Damián Szifron. Pedro e seu irmão mais novo Agustín Almodovar na coprodução também merecem registro. Trata-se do filme mais visto na Argentina no ano de 2014, não por acaso.

Eis aqui uma boa dose de reflexão para um tempo de desumanidades, de intolerância e de violência.

A explosão pode estar no avião, na comida, no carro ou até mesmo mesmo no espelho de uma festa de casamento.

A combustão depende dos recursos internos de cada um. A linguagem oficial da justiça muitas vezes não basta para o desejo e o impulso de se agir em mão própria em busca do gozo.

Da vida à morte, da civilização à barbárie, pode-se andar muito...ou pouco. Tudo depende das circunstâncias e do momento. Sem perder o humor (negro?) e com direito à trilha sonora impecável.

No amor, claro, pode residir a esperança, a única solução e salvação de final imprevisivelmente feliz.