Obama tem feito um encerramento do seu mandato muito mais próximo e a altura das expectativas da esperança transformadora que cercou sua (re)eleição.
Suas
visitas históricas (Cuba, Vietnã e agora Japão, para ficar em 3 exemplos) e falas recentes devem
ser vistas com os duros limites e quase incontornáveis de como toca a política nos Estados Unidos entre republicanos e
democratas, inclusive diante do risco “Trump”.
Acontece
que a “Revolução Moral” proposta para que o passado ensine o presente exige
enfrentar o “livre mercado” com a regulação devida; exige, no mínimo, temperar o
capitalismo voraz largamente vigente com um pouco mais de equidade e desconcentração de renda, com
melhor distribuição da terra, com menos rentismo e menos exploração. Isso e muito mais.
A capacidade do homem produzir o mal é inerente ao sistema econômico tido como apropriado para nosso tempo e lugar, como o modelo que "deu certo". É preciso lutar por um sistema mais
justo, o mesmo sistema que faz com que as bombas em Hiroshima-Nagasaki não sejam uma
lembrança de 71 anos atrás, já que guerras contemporâneas, mesmo sem bombas
nucleares (ainda que nesse aspecto tenha havido alguns avanços, tais como o acordo com o Irã), continuam a acontecer
todos os dias.
Se antes
eram campos de concentração movidos por um ditador insano, hoje são campos de refugiados tolerados por líderes europeus e do mundo, sobrando medo e violência
em nome da “Guerra ao terror”, como se boa parte do combustível não tivesse uma origem
colonial em verdadeiro efeito rebote.
Aliás,
muito do que pode e deve mudar poderia começar por Israel…oprimido de ontem, opressor
de hoje.
Mas voltemos ao Japão e à visita de Obama. O Japão, enfim, como nação, visto na perspectiva da história, parece ter aprendido, de fato, alguma coisa; de
império do passado, o país, desde 1945, com base na sua previsão constitucional
que retira o direito de Guerra do Estado (apesar de ste manter forças armadas
estruturadas), nunca mais enviou um
soldado sequer para qualquer tipo de combate, um recorde de pacifismo
comprovado.
A despeito disso, o governo do Primeiro Ministro liberal-democrata Shinzo
Abe insinua querer mudar a ordem das coisas, inclusive noticiando intenção de emendas à
Constituição, usando como justificativa o crescimento da China e o empoderamento
nuclear da Coreia do Norte, ou seja, o mesmo discurso do medo…Nos últimos tempos, Abe já conseguiu aumentar o orçamento militar,
permitir exportação de armas, atitudes com as quais o “never again” gravado no memorial de
Hiroshima fica sob risco e ameaça (mesmo que eventual mudança exija quórum qualificado
de 2/3 e um referendo nacional).
Dito isso,
é de se questionar se a visita dos Estados Unidos (que não foi, de fato, um pedido de desculpas) não terá subliminar motivação comercial-militar para
investimentos na indústria da guerra?
A motivação
segue sendo a mesma, sem mudar a raiz do problema, ele persistirá. Mais de 200
mil pessoas morreram em Hiroshima-Nagasaki…hoje, mais de um bilhão de pessoas
passam fome no mundo e isso parece ser algo tolerado e naturalizado.
Como bem
afirmou Obama dias antes da visita, definitivamente, “the job is not done”!Não mesmo!