Como celebrar a independência política do Brasil que, quase 200 anos depois, segue situado na periferia do capitalismo com uma economia vergonhosamente dependente sem projeto de país?
Como festejar a independência quando ditas "pessoas de bem" recheadas de ignorância e "colonialidade do saber" vão para as ruas, dentre outras atitudes, com "placas" em inglês para ovacionar um confesso "adorador da ditadura"?
Como comemorar uma independência para um país que, mesmo estando entre as maiores economias e democracias do mundo, em meio a diversas outras desgraças cotidianas, ainda tem analfabetos, larga pobreza, inflação em alta e quase 15 milhões de desempregados?
Como compreender a independência quando muita gente de essência "vende-pátria" não tem vergonha em sequestrar as "cores da bandeira" para dizer que "autoriza" ditadura?
Como louvar a independência sem discutir o papel e o lugar das ditas Forças Armadas para um país que escandalosamente não teve "justiça de transição pelo que ocorreu entre 1964/1985 e nos quais certa casta militar está, mais do que nunca, pelo menos em tempo civil, "afogada" no poder fetichizado?
Como compreender a independência na perspectiva de um Estado supostamente laico que, por diversos caminhos, deveria desamparar a perigosa relação da política com o viés religioso nas suas multifacetadas expressões de "cegueira"?
A democracia brasileira, antes de ser uma crença, precisa alcançar muito além da representação, com participação, deliberação e, sim, a necessária radicalidade, ainda que por novos e melhores caminhos.
A propósito, como entender a complexidade e a diversidade da "voz das ruas" quando ainda não fizemos uma leitura adequada do junho de 2013?
Nunca foi tão urgente a formação política e a conscientização das massas e da classe trabalhadora (sim, ainda é de "guerra de classes" que se trata...)
Nada pode ser tão colonial e antinacional do que a banalização e a "corrupção" do político, una vez que a Política, como ensina Dussel, é uma atividade nobre composta de ações, instituições e princípios...
Quem desacredita a política satisfação das necessidades coletivas faz a pior corrupção para uma República dita democrática, ainda que formalmente.
Nesse difícil tempo alargadamente pandêmico, a falta de formação de consciência sobre os reais problemas do Brasil é o pior vírus a ser enfrentado.
Educação política das bases precisa é uma imunização que precisa ser urgentemente buscada, em especial para a "classe trabalhadora", especialmente quando esta, de algum modo, em alguma fração, chancela ou tolera a violação sistemática e permanente de direitos humanos arduamente conquistados (muitos dos quais sequer foram efetivados).
A frágil e hoje agonizante democracia brasileira está aí, prestes a ser reinventada e, sobretudo, como ensina NILDO OURIQUES, "adjetivada"...
Por um "Dia da Pátria" com mais consciência e formação política do povo brasileiro, sem rebaixamento e banalização da Política e da sua própria estruturação jurídica pela Constituição, mesmo quando essa, nos seus limites, na prática, serve para a reprodução e perpetuação das desigualdades do capital.
Quando a mais limitada dimensão democrática da democracia formal como a representação em um de seus mais elevados graus é pobre, baixa e ignorante, tanto pior. Maior a crise a agonia da própria democracia no que pode ter de poder realmente transformador.
Infeliz de quem ainda, por ingenuidade, ignorância ou teimosia, crê no "mito" que mente...a "nossa democracia", na sua essência, há de ser muito mais do que hoje aparece na superficialidade como aparência. "Quem autoriza" o seu apodrecimento precisa repensar qual é o seu lugar e responsabilidade.
Para quem o tempo político pode estar acabando? Para quem adora ditadura sob um falso grito de pátria, deus, família e liberdade. Esta é a verdadeira prisão e "açoite" do que ainda sobrou da nossa hoje envergonhada democracia em que o dito "mercado" teima em violar direitos humanos.
Quem nega as condições de reprodução e desenvolvimento da vida de um país soberano e verdadeiramente independente há de enfrentará as consequências da própria miséria política, moral e intelectual. Nunca poderá reduzir ou achar que encarna alguma "democracia" do tamanho da nossa.
A implacável história no seu materialismo dialético não absolverá (nem representante...nem supostos representados). Não mesmo. "Tudo"? Acho que logo ali não será mais "nada", a não ser quando, de algum modo aliviados, olharmos para trás para ver o tamanho do estrago. Se ontem passaste e hoje ainda passas, amanhã certamente não passarás.
Feliz 07 de setembro de 2021 para um país que, não só nas capitais, mas sobretudo no seu interior, a despeito da aparente cegueira de muitas e muitos, precisa "esperançar" a sua (re) construção democrática substancial e que ainda está erraticamente procurando a sua independência e"libertação" em muitos sentidos.