domingo, 26 de abril de 2020

O novo tempo do mundo


Estamos no permanente debate entre a crise sanitária e a econômica.  De ambas depende a perpetuação do melhor parâmetro filosófico: o paradigma da vida concreta, próprio da Filosofia da Libertação. 

A saúde e a economia são os principais assuntos que percorrem o mundo em diferentes narrativas e perspectivas.

Estamos em um intervalo de tempo que permite repensar.

Os modelos hegemônicos estão sob discussão em um contexto geopolítico complexo que permite muitos diagnósticos e projeções.

A propósito, muitos já falam em uma nova "Guerra Fria" entre China e Estados Unidos. A Europa começa a repensar a necessidade de revisar o seu projeto de industrialização. Todos "dependem" da China para quase tudo, o que faz da soberania um recurso meramente retórico.

Tanto os sistemas de saúde (públicos/privados) como o capitalismo (o "dito" modelo que dizem funcionar - e realmente funciona, só que para uma minoria nos movimentos de M e W do "deus mercado") mostram os seus grosseiros e vergonhosos limites.

Especialmente no Brasil, o SUS - maior plano de saúde do mundo está posto a prova. O seu desmonte gradual ao longo dos anos, em especial desde o Governo Temer, somado a falta de prioridade à atenção primária, deveriam estar em pauta. Infelizmente faltam (e sempre faltaram) leitos de UTI, só que agora a morte é concentrada, nacional e mais evidente. O Judiciário continua sem resolver vem o problema da tutela coletiva, em especial na saúde. Isso torna o nosso quadro ainda mais preocupante, especialmente diante de uma "necropolítica" sanitária de desmantelamento e subfinanciamento do SUS que não é de hoje. 

O capitalismo está diante de uma nova crise (a frequência entre uma e outra parece menor), só que agora diferente das demais. A dita "volatilidade" do mercado serve para mostrar algo que é da natureza do modelo: mais concentração e mais desigualdade. É uma seleção natural dos mais fortes (que o diga a Amazon com os seus quase 600.000 empregados nos Estados Unidos). É para esses mais "fortes" que o Estado sempre acena.

O mundo todo discute o papel do Estado na economia. Engraçado que, nessa hora, todos parecem "keynesianos".

E, para além disso, há um importante debate comportamental: e experiência desse novo e único tempo do mundo muda exatamente o quê? Qual a responsabilidade de cada um pelas escolhas nesse momento de "restrição"?

O que muda no plano pessoal? Hora da união da família aumentar ou dissolver de vez? Hora de repensar relacionamentos, refletir sobre deveres e obrigações domésticos? 

E no plano profissional? Todo mundo, mais do que nunca, impactado pela tecnologia. Hora de aprender que precisamos pensar em novas formas de trabalhar? Espaço para aumento da super e autoexploração? 

E no plano político? Será que os partidos políticos aproveitarão a oportunidade para a necessária reinvenção e formação de base? E os sindicatos? E a "demonização" da política, aumenta ou diminui? O que esperar da "democracia"?

Para alguns, nada vai mudar. A volta gradual da rotina (no cenário mais otimista, em meses) restabeleceria a normalidade e deixaria toda a angústia para trás.

Para outros, esse período abre um período de reflexão, um repensar de escolhas de consumo e, portanto, uma forte crise de demanda.

Como toda a crise, aberta estão as oportunidades para o descobrimento da autenticidade. 

E se...? 

É tempo de incerteza, mas, ao mesmo tempo, de inevitável mudança.