domingo, 20 de janeiro de 2019

"Nós e o marxismo": o "chamado" de Florestan Fernandes






"Depois que consegue completar o ciclo de transformação em classe em si mesma, a classe operária converte-se no principal fator de alteração da ordem [...] Os proletários, ao e constituirem como classe relativamente autônoma e capaz de desenvolvimento independente, abrem novos rumos para toda a sociedade" Florestan Fernandes

O texto "Nós e o marxismo", de autoria de Florestan Fernandes (sistematização de aulas nos anos 80), publicado pela Editora Expressão Popular em 2009, é uma curta, importante e necessária leitura.

Firme na compreensão particular e crítica do capitalismo desde a periferia dependente brasileira e latinoamericana, o escrito de Florestan Fernandes, mais do que qualquer coisa, é um chamado à autoreflexão: "O propósito que me anima consiste em suscitar toda a problemática da luta de classes, como ela se repõe cem anos após a morte de Marx (embora o leitor precise levar avante, por sua conta, a reflexão crítica e política sobre o assunto)".

Vale recortar algumas dimensões desse trabalho.

O primeiro ponto de grande inflexão pode ser a compreensão da democracia como uma ferramenta proletária ou burguesa. É aqui que a democracia deve ser colocada em debate. Basta estar vivo e pensante para saber que nos sobra democracia burguesa restrita e nos falta democracia proletária ampliada. É a segunda que tem o poder transformador e de abrir as fissuras necessárias para expor as contradições do velho e permitir o nascimento do novo.

Outro aspecto que merece destaque é a percepção de que, na luta por dois mundos (o capitalista ou o socialista), não há como promover mais consciência e poder de luta da classe trabalhadora para as devidas pressões, dissidências e instabilizações na "ordem" estabelecida (o que, ao meu ver, conforma aspectos da "democracia radical" pautada pelo conflito e pelas interpelações) se não houver um "processo cultural quantitativo e qualitativo da revolução" e também o estabelecimento de um "sistema internacional de poder socialista".

A conjuntura atual é reveladora de que não só no Brasil, mas na América Latina, ainda não se tem nem uma coisa ou outra, nem no Estado e nem na dita Sociedade Civil.

O trabalhador ainda não se reconhece como "classe em si" (mas, afinal, a propósito, transpondo o debate para uma realidade específica europeia dada pela conjuntura atual: os "coletes amarelos" franceses nas ruas, o que são? será que podem ser "coveiros", "parteiros" ou "fantasmas" de alguma coisa a merecerem maior atenção? indicam alguma tendência estrutural de mobilização do resgate de alguma "política" frente à "economia" no "biombo do Estado"?).

Se, como diz Florestan, "no interior de uma posição marxista coerente a crise é um processo normal e necessário", em que fase dessa luta, afinal, estamos?

Trata-se de retomar uma velha questão de outro autor conhecido de todos, que deve estar sempre em lugares onde ainda há uma "clamorosa injustiça social": o quê fazer?

Uma coisa é certa: há uma "férrea necessidade" de mudança na direção do "comum".

O atual estado de coisas, qualquer que seja a sua formal "legitimidade", definitivamente não serve como horizonte de presente, muito menos de futuro.




quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Mais um dia sangrento na Faixa de Gaza

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*Texto escrito em 01 de abril de 2018


Nada menos do que dois milhões de palestinos vivem na Faixa de Gaza. A região atualmente tem forte presença do grupo Hamas, lembrando que o partido Fatah domina a Cisjordânia.

Em época de Páscoa (ou Pessach, a Páscoa judaica), a morte de 15 palestinos por soldados de Israel na Faixa de Gaza no dia 30 de março último é a expressão de um conflito histórico ainda sem definição. Noticia-se mais de mil feridos, dentre os quais dezenas de pessoas com menos de 18 anos.  

Turquia e Irã saíram em defesa dos palestinos. Os Estados Unidos, até aqui, bloquearam o pedido de investigação dos fatos. O Egito está ao lado de Israel: ambos, vale lembrar, são as fronteiras de Gaza.

A notícia dá conta de que os palestinos, aos milhares,  exerciam pura e simplesmente o seu direito ao protesto, denominado “a grande marcha de retorno” na Faixa de Gaza.

Direito ao protesto é o exercício de manifestação democrático. Nas razões do recente protesto, o forte bloqueio econômico e as restrições impostas ao território há mais de uma década.  

O legítimo protesto dos palestinos da Faixa de Gaza propiciado pelo comando do Hamas tem previsão de seis semanas.

Desde o último confronto aberto em 2014 a violência não atingia este nível, ocasião em que o Estado de Israel enfrentou o grupo Hamas, que desde 2007 tem predomínio e hegemonia na Faixa de Gaza.

Aceitará a comunidade internacional esse ataque ofensivo à democracia e aos direitos humanos? 

Onde está a prova de que a “soberania” de Israel teria sido “ameaçada” para justificar esta agressão, com direito a uso de armas letais? Certamente que arremesso de pedras, queima de pneus ou mesmo túneis de um povo “toupeira” sem Estado e sem-saída estão muito longe disso, não?

Sem política internacional que dê conta do problema, resta a guerra. E uma guerra desigual. Um Estado comandando por um presidente ultranacionalista contra um determinado povo. A história mostra que, quando o interesse na “terra” vem antes das “pessoas”, tudo pode piorar. Sabe-se qual é a resposta do desespero para a violência. Mais violência.

Onde ficou o lema de Liberdade, Justiça e Paz da declaração de independência de Israel desde 1948?

Por que Israel parece ser um Estado que, na crítica implícita do Papa Francisco, não respeita nem os indefesos?