quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Arte&Estética - Lição de Marcel Duchamp


Quem disse que uma "obra de arte" precisa parecer uma típica "obra de arte"?

Por vezes, não há nada melhor do que encontrar alguém capaz de desconstruir algo que foi (ou ainda pode estar) equivocadamente posto como "verdade".

Com a palavra, um dos expoentes da escola pós-moderna, o francês MARCEL DUCHAMP (1887-1968), para quem, em definitivo, uma "obra de arte" não necessariamente precisa parecer (ou ser), na perspectiva tradicional, uma "obra de arte". Está aí um bom e novo "conceito" (sim, ainda há quem ame conceitos).

Problematizar a existência da arte desacompanhada da estética tradicional é, sem dúvida, estabelecer paradigma importante na compreensão de que o conteúdo e a possibilidade de expressar significado é o maior legado e sentido das verdadeiras artes (plásticas? visuais? a terminologia talvez precise ser revista no giro cambiante da linguagem).

Afinal, a arte precisa expressar liberdade, criatividade e subjetividade, não propriamente um projeto estético-visual.

Um afresco floreado e pleno de tintas numa bela moldura pode ser mais "vazio" de sentido que uma simples "roda de bicicleta", tal como a utilizada por Duchamp numa de suas peças.

Convenhamos, quanta história e quanta lembrança pode se esconder na estrutura de uma "roda de bicicleta"...

Os objetos de DUCHAMP merecem atenção proporcional à ira que despertaram (e ainda despertam) em tantos "sábios" curadores do universo da arte.

Mais do que a "aparência", a "essência" há de repousar na historicidade e representatividade do incerto percurso da arte no sentido de cada um.

Acima de tudo, quebrar o paradigma da estética na arte é, sem dúvida, "carnavalizar" outras possibilidades (WARAT).

Bem que o deslocamento do binônimo arte-estética podia ajudar a descontruir o mito da segurança-uniformidade ainda tão impregnado no mofado (e por vezes sufocante) universo jurídico tradicional (que o digam as "súmulas vinculantes" que o STF tem "receitado" à profusão, até aqui com pouco "tempero" de Justiça).

Mesmo quando tudo parece conspirar para o monólogo da unidade sedante, apostar no instinto, fugir um pouco do "espírito de rebanho" (NIETZSCHE), deixar de lado falsos "padrões civilizatórios" pode desvendar um "admirável mundo novo" (HUXLEY).

Se a arte pode romper com a estética, o direito também precisa encontrar novo horizonte de possibilidades.

Por essas e outras que, algumas vezes (ou quase sempre), é preciso deixar os padrões de "racionalidade" para que possamos nos banhar um pouco em imprevisível humanidade.

Por essas e outras que vale pagar o preço da "diferença", ainda mais em tempos em que os adoradores cegos das "convenções" ainda nos cercam por todos os lados.

DUCHAMP pagou o seu ao ter tido rejeitada a proposta de incluir o seu (hoje célebre) "mictório" num famoso e tradicional "Salão de Arte".

Por mais que as "fogueiras" continuem acesas, subverter é (e sempre será) preciso...

Não só na arte, mas também no direito.

O desafio pode estar na coragem de cada intérprete manter sua "identidade" (BAUMAN)!

Talvez DUCHAMP seja quem melhor tenha traduzido o real e melhor sentido da frase mais incansavelmente repetida nas últimas semanas: "YES, WE CAN..."

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