sábado, 31 de janeiro de 2009

Algumas letras sobre psicanálise


Vivemos para encontrar respostas, certo?

A PSICOLOGIA, na vertente da PSICANÁLISE, traz conhecimentos importantes sobre a compreensão e interpretação do "self" nosso de cada dia.

Obviamente que a PSICANÁLISE enquanto ciência, como outros campos do saber, vai ter lá que enfrentar seus muitos e invencíveis PARADOXOS nas suas tantas e diversas "correntes" de entendimento (que seguramente são muitas).

Se um paradoxo é algo que traz uma carga de verdade na sua contrariedade (e a lição aqui é do psicanalista argentino ENRIQUE ÃCUNA), "las paradojas del objeto en psicanálisis", por si só, já seria pauta para muita discussão. Contudo, a idéia neste primeiro "post" PSI é tentar dispor algumas letras iniciais sobre este importante campo do saber e, quem sabe, despertar curiosidade na sua pesquisa.

A psicanálise, dentre muitas possibilidades, vai trabalhar sobre elementos do SIMBÓLICO, do REAL e do IMAGINÁRIO e, sobretudo, em síntese, com a interpretação que não se debruça sobre um fenômeno voltado para um objeto frio qualquer. Ao contrário de um EXPERIMENTO científico que permite indução-dedução para produção dos mesmos resultados, a viagem da psicanálise abre janela para olhares e "miradas" na verdadeira e solidária EXPERIÊNCIA dialógica de conhecimento (e certamente aprendizado) voltada para um sujeito, para "o outro" e seus "fantasmas" guardados no porão do I(i) NCONSCIENTE (este, elemento-chave nas linhas psicanalíticas).

A psicanálise permite que a cognição atinja uma possível expressão dos "territórios desconhecidos" (e aqui me valho da expressão do Mestre WARAT).

Vivenciar a experiência em cada um e para cada um é chegar sempre na diferença subjetiva fascinante (e delirante).

O lugar contemporâneo da psicanálise quer investigar o ser humano no seu contexto relacional (PEDRO GOMES)e, assim, ser útil (quando não imprescindível) para a vida em sociedade.

Mais do que frio exame do psiquismo, instrumentalizar cada sujeito no caminho do autoconhecimento, na compreensão do consciente e do inconsciente é também contribuir para (re) conduzir esse mesmo sujeito no caminho da (re) humanização, do resgate da auto-estima e individualidade (a começar pela atenção na escuta do outro), enfim, da dignidade, da qualidade de vida, premissas tão esquecidas na sociedade pós-moderna de identidade "standartizada" ou diluída no mosaico dos padrões e convençÕes.

Desafiador e encantador o trabalho psicanalítico, verdadeira arte!

Neste universo, o gênio austríaco SIGMUND FREUD (1856-1939), a austríaca MELANIE KLEIN (1882-1860), o inglês DONALD WOODS WINICOTT (1896-1971) e o célebre francês JACQUES LACAN (1901-1971) são apenas alguns dos principais atores históricos da psicanálise como substância que se precisa difundir e fazer conhecer.

Iluminar e procurar a resposta dos significados do inconsciente e o seu impacto para cada indíviduo no seu convívio com si e com o "outro", sempre no novelo da linguagem (do sonho, do amor, da fantasia, do aprendizado, da pulsão, do desejo, da sexualidade, da escuta, e, inclusive, do próprio silêncio...)...rico é o mosaico e o patrimônio da psicanálise para fundir melhores horizontes no (des) caminho da humanidade.

Mais do que isso, buscar, conhecer e investigar o universo PSI na lente e foco da PSICANÁLISE tem tudo para ser um percurso fascinante no mundo da CULTURA e seus marcos civilizatórios.

Que esta primeira postagem possa ser um convite para ouvir (e conhecer) "o outro" que está aí, do outro lado da tela (divã...).

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Arte&Estética - Lição de Marcel Duchamp


Quem disse que uma "obra de arte" precisa parecer uma típica "obra de arte"?

Por vezes, não há nada melhor do que encontrar alguém capaz de desconstruir algo que foi (ou ainda pode estar) equivocadamente posto como "verdade".

Com a palavra, um dos expoentes da escola pós-moderna, o francês MARCEL DUCHAMP (1887-1968), para quem, em definitivo, uma "obra de arte" não necessariamente precisa parecer (ou ser), na perspectiva tradicional, uma "obra de arte". Está aí um bom e novo "conceito" (sim, ainda há quem ame conceitos).

Problematizar a existência da arte desacompanhada da estética tradicional é, sem dúvida, estabelecer paradigma importante na compreensão de que o conteúdo e a possibilidade de expressar significado é o maior legado e sentido das verdadeiras artes (plásticas? visuais? a terminologia talvez precise ser revista no giro cambiante da linguagem).

Afinal, a arte precisa expressar liberdade, criatividade e subjetividade, não propriamente um projeto estético-visual.

Um afresco floreado e pleno de tintas numa bela moldura pode ser mais "vazio" de sentido que uma simples "roda de bicicleta", tal como a utilizada por Duchamp numa de suas peças.

Convenhamos, quanta história e quanta lembrança pode se esconder na estrutura de uma "roda de bicicleta"...

Os objetos de DUCHAMP merecem atenção proporcional à ira que despertaram (e ainda despertam) em tantos "sábios" curadores do universo da arte.

Mais do que a "aparência", a "essência" há de repousar na historicidade e representatividade do incerto percurso da arte no sentido de cada um.

Acima de tudo, quebrar o paradigma da estética na arte é, sem dúvida, "carnavalizar" outras possibilidades (WARAT).

Bem que o deslocamento do binônimo arte-estética podia ajudar a descontruir o mito da segurança-uniformidade ainda tão impregnado no mofado (e por vezes sufocante) universo jurídico tradicional (que o digam as "súmulas vinculantes" que o STF tem "receitado" à profusão, até aqui com pouco "tempero" de Justiça).

Mesmo quando tudo parece conspirar para o monólogo da unidade sedante, apostar no instinto, fugir um pouco do "espírito de rebanho" (NIETZSCHE), deixar de lado falsos "padrões civilizatórios" pode desvendar um "admirável mundo novo" (HUXLEY).

Se a arte pode romper com a estética, o direito também precisa encontrar novo horizonte de possibilidades.

Por essas e outras que, algumas vezes (ou quase sempre), é preciso deixar os padrões de "racionalidade" para que possamos nos banhar um pouco em imprevisível humanidade.

Por essas e outras que vale pagar o preço da "diferença", ainda mais em tempos em que os adoradores cegos das "convenções" ainda nos cercam por todos os lados.

DUCHAMP pagou o seu ao ter tido rejeitada a proposta de incluir o seu (hoje célebre) "mictório" num famoso e tradicional "Salão de Arte".

Por mais que as "fogueiras" continuem acesas, subverter é (e sempre será) preciso...

Não só na arte, mas também no direito.

O desafio pode estar na coragem de cada intérprete manter sua "identidade" (BAUMAN)!

Talvez DUCHAMP seja quem melhor tenha traduzido o real e melhor sentido da frase mais incansavelmente repetida nas últimas semanas: "YES, WE CAN..."

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Encontro em "Mont Pellerin"



Certa feita, em abril de 1947 (pós II-Guerra Mundial), alguns intelectuais reuniram-se na pequena localidade Suiça de "Mont Pellerin".


Entre eles estavam o falecido economista estadunidense MILTON FRIEDMANN e o igualmente póstumo filósofo alemão KARL POPPER.


Depois de 10 dias de "reflexão", o seleto grupo deliberou e entendeu que a sociedade da época estava em "perigo" e sob "ameaça" constante de tendências políticas subversivas e contrárias à boa ordenação social.


O mundo comunista e socialista, para eles, era a expressão pura do inferno, do inimigo e do "terror" que precisava ser combatido com tenacidade.


O mencionado grupo, de maneira geral, dentre suas conclusões, entendia que o "mercado" era o único e legítimo sujeito da história, a base de todos os direitos, direitos humanos, inclusive. Eles acreditavam no delírio e estupidez de que o sagrado "mercado" era mais democrático que a própria democracia.



FRIEDMANN, na sua obra "Capitalismo e Liberdade (1972)", posteriormente premiado com "Nobel da Economia" (1976), chegou a pregar a redução do Estado em todos os campos, menos no segmento militar e policial, afinal, segundo ele, algumas instituições tinham que defender a liberdade dos inimigos internos e externos que ousavam se opor ao idealizado sistema de império do capital. Em seus estudos, FRIEDMANN chegou ao ponto de dizer que o mercado era melhor do que a democracia, pois no mercado, por exemplo, num grupo de 11, se 6 querem comprar gravatas verdes e 5 desejam adquirir gravatas vermelhas , é possível cada qual comprar a cor de gravata que "livremente" quiser; já na democracia, tolice, sempre haverá de prevalecer a vontade da maioria...


O filósofo KARL POPPER, por sua vez, abria "fogo cruzado" contra os pensadores classificados como "historicistas" ao entender que todos aqueles que viam um propósito na história, que apostavam na necessidade de continuar sonhando com uma utopia concreta capaz de proporcionar mudanças em prol de um mundo melhor e mais justo nada mais eram do que uma tola sociedade tribal. Para ele, somente o mercado poderia ser louvado. Curioso notar que o mesmo POPPER, em sua proposta filosófica, entendia que a ciência somente avançava e progredia na verdade a partir de "dedução"; ele, no seu "falsificacionismo" entendia que todas as teorias ainda a serem falsificadas eram boas, pois, segundo ele, somente poderia falar da realidade algo que fosse, em si, "falsificável"; se algo não tivesse a qualidade de "falsificável" certamente não poderia pertencer à realidade.


Não por acaso essas "brilhantes" idéias surgidas em "Mont Pellerin" serviram de "pasta-base" para alimentar as tristes, cruéis e perversas ditaduras que tomaram corpo na América Latina nos anos 60 e 70 sob forte estímulo e batuta do "Tio Sam" estadunidense (sempre ele...).


As mesmas teorias são "papagaiadas" até hoje...


A propósito, o historiador chileno MIGUEL ROJAS MIX é taxativo ao afirmar que os pressupostos ideológicos do cristianismo e do predomínio da idéia civilizatória do "ocidente" foram decisivos no contexto e na implementação dos Estados Ditatoriais, inclusive na sangrenta ditadura do seu país (derrubada de "Salvador Allende" em 1973).


Sendo FRIEDMANN e POPPER legítimos participantes do colóquio de "Mont Pellerin" a "antítese" de suas teorias não pode passar incólume.


Afinal, na sua teoria de glorificação do capital, esqueceu FRIEDMANN de explicar que a alucinante e orgásmica auto-regulação do mercado nada resolveria para quem não tinha como "consumir" ou "comprar" nada, para quem não precisava de gravatas, mas de sim de prato de comida, moradia e serviços públicos essenciais (saúde e educação). Aliás, em tempos de "grande crise" e de "necessidade de intervenção estatal" na economia, como vivemos hoje, o que será que o "sábio" economista estadunidense nos diria?


POPPER, por sua vez, no seu ódio contra a história e a utopia, talvez tivesse na falência do monólogo neoliberal a maior prova da sua tese "falsificacionista", que infelizmente existe e ainda está perigosamente (esta sim) incrustada na realidade...


Não por acaso o Fórum de DAVOS continua nas cercanias dos Alpes Suiços...


Não por acaso, alguns teimosos historicistas reunidos em BELÉM do Pará continuam acreditando que "outro mundo melhor e progressivamente mais justo" é possível.


Não por acaso, a "política externa" estadunidense, além de ditaduras, na lógica sádica do capital, continua produzindo míséria e uma sucessão de guerras...Que digam os iraquianos e as recentes vítimas do "massacre" palestino...


Contraditoriamente, a mesma proposta estadunidense de combater o "inimigo" comunista de ontem criou o "terrorista-muçulmano" de hoje.


Na grande mídia, entre o 11 de setembro de 1973 no Chile que derrubou Salvador Alende e o 11 de setembro de 2001 no episódio das "torres gêmeas", qual data merece mais espaço?


Qualquer semelhança certamente não será mera coincidência...


Afinal, de que lado está o verdadeiro "terror"?


Herança de "Mont Pellerin"...



Começando...um pouco de tudo

















A modesta (e ao mesmo tempo paraxodal e irresponsavelmente pretensiosa) proposta deste BLOG está resumida no seu nome.

Pretende este BLOG criar espaço de distribuição impessoal e democrática da informação que, ao mesmo tempo, permita debate leal (e crítico) entre amigos e ilustres desconhecidos que não teimam questionar e desafiar suas (in) certezas e enfrentar suas respectivas e angustiantes subjetividades.

Caminhar pela racionalidade crítica sem perder a poesia (e a ternura)...

A idéia deste portal é lançar "palavras andantes"(GALEANO) em busca de algum sentido para a vida em sociedade, seja na perspectiva coletiva ou no mosaico de cada individualidade.

Produzir recortes críticos (e informativos)...

(De) formar paradigmas e sensos comuns estabelecidos...

Estabelecer pontos de vista para debate e exercício da dialética crítico-construtiva que permita atingir algum consenso possível e socialmente desejável...

Receber devolução de idéias capazes de impactar e transformar a perversa hiper-realidade circundante da delirante "sociedade de consumo" (BAUDRILLARD)

A partir de hoje as navalhadas deste BLOG tentarão "cortar" e atravessar "um pouco de tudo" em busca de significantes e significados, sempre no fantástico universo da linguagem...

Mais do que fonte de postagem, quer este BLOG ser uma possibilidade democrática de devolução para todos os lados...do encontro do "virtual" com o "real" (ZIZEK)

Filosofia, psicologia, literatura, música, arte, direito, política, sociologia, história e... serão alguns segmentos temáticos que transitarão com freqüência neste portal.

Que a tesoura comece a cortar...e trazer mínima competência e inspiração para enfrentamento dos temas.