quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Despedida ao Professor Luis Alberto Warat...


"para satisfazer a dúvida do aluno que é sempre, no fundo, um pedido de amor (...) a renúncia a este monstro que é o último significado" Luis Alberto Warat

Hoje a Argentina, o Brasil, a América Latina e o mundo perderam uma de suas maiores e mais humanas figuras...

Mais triste e opaco ficou o Direito...

Faleceu há poucas horas, em Buenos Aires, o inesquecível Professor Luis Alberto Warat, Mestre que inspirou corações e mentes no caminho do saber sensível e transformador.

A sensação é de imenso vazio. Perdeu-se um poeta do direito, um lutador intransigente dos melhores combates contra o "senso comum teórico", a vaidade, e todas muitas outras coisas pequenas e rasteiras que infelizmente compõem a constelação jurídica do real...

Quem teve a oportunidade e alegria de conhecer pessoalmente o Professor Warat sabe que ele era uma figura humana de outra dimensão, alguém para ser lembrado e festejado, hoje e sempre...

Que ele descanse em paz..e que todos aqueles que com ele aprenderam a viver e pensar o direito iluminado pela crítica da arte saibam aplicar e disseminar seus preciosos ensinamentos pelo imaginário...

Que a força transformadora do seu saber, o calor de seu abraço e a comovente doçura de seu sorriso nunca sejam perdidas ou esquecidas...

Que a Casa Warat continue mais plena e ativa do que nunca como encontro e "lugar da razão sensível", por mais duro e áspero que possa ser o inverno do luto.

Todos precisaremos de criatividade para superar esta perda que pode representar tudo, menos um "último significado".

Warat vive(rá) eternamente embalado pelo amor dos que com ele muito aprenderam...






sábado, 11 de dezembro de 2010

Macca no Brasil...on the run


Well the rain exploded with a mighty crash as we fell into the Sun...and the first one said to the second one there, i hope you are having fun...Band on the run, band on the run, and the jailer man and sailor Sam, were searching everyone, for the band on the run, band on the run...”

1. Passou por Porto Alegre e São Paulo. Felizmente aconteceu. Up and coming tour. Oh Yeah! All right!

2. Sim, o mais musicalizado e versátil dos Beatles, Mr. Paul McCartney, novamente deu ares de sua genialidade no Brasil, depois de longos 17 anos. E foi simplesmente incrível, muito mais do que uma mera e transitória passagem.

3. A capital dos gaúchos, por exemplo, estava recheada de faixas com a mensagem “Welcome Paul”, tendo vivenciado um cenário de euforia…A Goethe e o Parcão por alguns instantes pareciam mais próximos da célebre Abbey Road…Paul, na sua simplicidade, parecia em casa, como cantado em Penny Lane, tanto que em São Paulo até passeio de bicicleta fez…

4. Esforçando-se para falar português, buscando forte sinergia e interação com a plateia e demonstrando uma humildade própria dos verdadeiramente grandes, Macca fez shows de três horas, sem intervalo, mostrando uma vitalidade e uma visão de conjunto exemplar.

5. Prova disso é que entrou no palco e dele somente saiu junto com a sua banda “fantástica”, como bem dito e pronunciado por ele num entusiasmado português treinado horas antes do show…Bem já se disse que “estrela” de verdade não brilha sozinha, mais do que isso, expande luz e energia para todos que estão a sua volta;

6. No saboroso cardápio, clássicos dos Beatles, dos Wings e da sua carreira solo, incluindo Hey Jude, Band on The Run, Jet, All my loving, Yesterday, The long and winding road, And I love her, Get, Live and let die entre outras mais.

7. E o que dizer então da performance talentosa de Paul na sucessiva e constante troca de instrumentos? Não por acaso muitos o definem como o músico mais completo da atualidade… não é por menos. Não se trata de render tributo à história, mas simplesmente homenagear o presente…

8. Mais do que um show, o espetáculo proporcionado pelo épico Beatle foi um maravilhoso encontro de gerações, proporcionando mágicos e ficcionais instantes de convívio entre uma juventude engajada do passado dos prósperos e identitários anos sessenta com a perdida massa homogênea pós-moderna que, até então, dos Beatles apenas conhecia de ouvir falar…pais e filhos...

9. No repertório, ainda sobrou tempo para lembrar com saudade de John e George, memória bem ilustrada pelas imagens belamente editadas no telão que servia de fundo…

10. O fim do show com Sargent Peppers Lonely Hearts Club Band foi emocionante… a lovely audience… to take you home with us… love to take you home

11. Thank you once again Paul… get back… get back… get back the way…


terça-feira, 12 de outubro de 2010

Descobrindo fragmentos e passagens rasteiras da matriz sociológica de MAX WEBER...


“A ação social, como toda ação, pode ser determinada: 1) de modo racional referente a fins; por expectativas quanto ao comportamento de objetos do mundo exterior e de outras pessoas, utilizando essas expectativas como ‘condições’ ou ‘meios’ para alcançar fins próprios, ponderados e seguidos racionalmente, como sucesso; 2) de modo racional referente a valores: pela crença consciente no valor – ético, estético, religioso ou qualquer que seja a sua interpretação – absoluto e inerente a determinado comportamento como tal, independentemente do resultado; 3) de modo afetivo, especialmente emocional: por afetos ou estados emocionais atuais; 4) de modo tradicional: por costume arraigado” Max Weber -Economia e Sociedade.

1. Max Weber (1864-1920) é uma fisionomia intelectual que, como todo gênio ou clássico, desperta enorme ambigüidade no contexto da sociologia enquanto ciência. A complexidade de sua obra (em parte póstuma), bem simbolizada no clássico ‘Economia e Sociedade’, produto de discutível e aparentemente inconciliável sistematização, torna a sua leitura ordinariamente penosa, de reduzido fluxo, por maior e mais curiosa que possa ser a recompensa traduzida pelo rico conteúdo, cercado de mistério, de sentidos ditos e significados um tanto quanto ocultos, quando não aparentemente contraditórios, o que talvez se explique pela ingênua pretensão de neutralidade axiológica por ele defendida (como se fosse possível fazer sociologia sem tomar partido, achar que há como discernir de modo rigoroso o julgamento dos valores das relações feitas a determinados valores, um dos aspectos trabalhados e discutidos nos seus estudos...). A propósito da aridez e do complicado acesso ao pensamento do autor, não por acaso uma das maiores autoridades no estudo de Weber no Brasil, Professor Gabriel Cohn, chegou a dizer que “a proporção de weberianos que atravessaram Economia e Sociedade de ponta a ponta é a mesma ordem da dos marxistas que estudaram os três volumes de O Capital”.

2. Um dos maiores méritos do seu referencial legado sociológico reside, justamente, na diversidade da sua formação e de suas projeções explicativas, as quais abrangeram estudo da economia, política, filosofia, direito e, num certo grau, até mesmo as implicações sociológicas da religião e da própria música. Basta olhar a biografia de Weber, que foi professor, jurista, deputado, oficial do exército imperial, tendo chegado até mesmo a dirigir um grupo de hospitais na Primeira Grande Guerra (1914-1918), momento histórico que, uma vez cessado, implicou na sucessiva participação do autor como consultor do Tratado de Versalhes e da própria Constituição de Weimar, momentos que antecederam o começo do fim da sociedade alemã com ascensão e queda do nazismo (1933-1945).

3. Atravessado por uma visível paixão pela teoria da ciência, marcado por um profundo conhecimento transversal de perspectiva histórica (tematizado nas sociedades antigas, cidades autônomas, Grécia, Roma, feudalismo, etc), não se pode deixar de considerar que, de certa forma, foi WEBER um “existencialista” precoce que buscou discutir o processo de atribuição de sentido e de apropriação subjetiva do comportamento humano, postura digna de ser valorada e dimensionada na importância devida, especialmente porque praticada numa época em que a percepção da liberdade não tinha a mesma coloração dada posteriormente a tragédia da guerra como conflito e espaço de morte e da própria contemporaneidade como era de perda da subjetividade como atributo.

4. A racionalidade calculista e asséptica pelo resultado visado, a persuasão racional pela convicção e pelo valor, o encantamento com as influências de ordem afetivo-emocional e o legalismo e o impacto da tradição de usos e costumes, por exemplo, foram prismas pelos quais o raciocínio weberiano desfilou conteúdo na abordagem dos seus tipos-ideais, da discussão de como cada indivíduo e cada grupo social constitui seu processo de atribuição de sentido e de definição de interesse e motivação pelas coisas e pelo mundo.

5. Temas interessantes estiveram ao seu alcance sob a perspectiva da racionalidade, dentre eles o conceito de ordem legítima, a discussão das relações de representação, a distinção entre poder (probabilidade de impor a própria vontade numa relação social) e dominação (probabilidade de encontrar obediência a uma ordem de determinado conteúdo), além do gosto e a discussão pela natureza da administração pública, a defesa da burocracia, do diferenciado debate sobre o grau de influência que pode existir entre as religiões e os cosmos da sociedade. Sua obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo” traz o entendimento de que o movimento protestantista teria favorecido sobremaneira o desenvolvimento dos postulados capitalistas, dentre outras causas, pela idéia de que a incerteza quanto a “salvação” precisaria compensar esta angústia com particular dedicação ao trabalho justamente para transmitir a sensação de que o êxito econômico pode me fazer crer que serei um dos “escolhidos”, ponto central de intensa polêmica na obra do autor).

6. Mas é possível enxergar muito mais, especialmente para quem recebeu influência de Karl Jaspers e teve em Lucáks um de seus discípulos. Para além da relevante classificação das formas de dominação pela via racional, tradicional ou pela natureza carismática, para diante da “sociologia compreensiva”, da defesa da organização racional e burocratizada da administração como caminho, o mergulho na matriz (e no penhasco) do pensamento weberiano pode até mesmo servir de caleidoscópio para travar discussão sobre o sentido da felicidade como simples possibilidade de busca, o que pode ser feito, por exemplo, dentro da idéia de que a defesa da valorização das ações sociais comprovadamente autênticas e justificadas no valor, na emoção, no instinto e na própria individualidade podem revelar novo caminho para que a construção de uma “seleção social” marcada pelas possibilidades e oportunidades passíveis de serem percorridas e preenchidas por cada indivíduo (ainda que exista quem ache que Weber foi tão ou mais longe que Maquiavel para justificar determinadas posturas em prol do interesse público e das razões de política de Estado...aqui a travessia não é nada segura).

7. Prova de que a leitura de Weber (apesar de desgraçadamente prolixa) pode ser reveladora e libertária reside no fato do autor, ao tentar abordar a inteligibilidade das conexões e intenções humanas, ter abordado e discutido as relações e imbricações entre política e economia, contexto no qual chegou a examinar a própria categoria do político como profissão e vocação, temática sempre atual, especialmente àqueles que, como Weber, ao mesmo tempo que mostram gosto e apreço pelo espaço público, o que inclui discurso de justificação quanto a necessidade de profissionalização e treinamento do “quadro administrativo burocrático”, de outro lado não perdem e vista uma certa e considerável desconfiança pela democracia como sistema....aspecto que por si só torna sua leitura um tanto quanto interessante, distanciada do senso comum e do “ponto cego” que a temática alcance na realidade atual do ocidente.

8. Por essas e outras que este sociólogo que apostava na ação individual e na relação social como um campo de referências recíprocas acaba construindo uma linha sociológica um tanto quanto original, bem diferente dos postulados de DURKHEIM, de certa forma distante do pensamento e matriz marxista, ainda que a fusão de horizontes da política e economia possam traduzir pontos comuns entre “economia e sociedade” e “o capital”.

9. Ainda que o acesso ao seus estudos esteja muito longe de ser considerado didático, cuidou WEBER de estabelecer uma preocupação com categorias e conceitos sociológicos fundamentais ao mesmo tempo em que preocupou-se e dedicou-se a aprofundar a análise e abordagem de aspectos específicos de seu pensamento, o que fez com que este explorasse a teoria da ciência, a conciliação necessária entre história e pensamento sociológico, a sociologia da dominação, religião,do direito, a relação de tensão que por vezes se estabelece entre a convicção do cidadão e da responsabilidade do homem de Estado, o sentido da economia e assim por diante.

10. Teria sido este estudioso alemão individualista quando entendia que a sociedade era composta de ações individuais que precisariam buscar um visado sentido subjetivo? Seria mesmo Weber responsável pela idéia de “desencantamento”, ladrão do “sonho” de uma sociedade mais igual, ainda que este fosse completamente contrário a qualquer forma de determinismo, ainda que ele apostasse na autoridade e na dominação pelo valor ou pelo lado afetivo e da sensibilidade do ser humano? Essas e muitas outras questões sem resposta pré-dada podem ser extraídas da travessia intelectual repleta de interessantes passagens do universo weberiano, aqui grosseiramente percorrido e tangenciado, mais como estímulo a interlocuções futuras e tesouradas críticas sobre sociologia do que com qualquer absurda pretensão de síntese...Agora é esperar as tintas, luzes (ou pedras) dos legítimos “weberianos”....

sábado, 2 de outubro de 2010

Política: “Pensando” com Aristóteles, “namorando” com Hannah Arendt e “cantando” com Martin Fierro


“O sentido da política é a liberdade (...) é algo como uma necessidade imperiosa para a vida humana (...) como o homem não é autárquico, porém depende de outros em sua existência, precisa haver um provimento da vida relativo a todos, sem o qual não seria possível justamente o convívio. Tarefa e objetivo da política é a garantia da vida no sentido mais amplo” (Hannah Arendt)

1. O que é política (Hannah Arendt)?

2 Em época de Eleições, de mais uma chamada democrática (e obrigatória) para o que povo escolha seus representantes no Executivo e Legislativo, tempo de refletir sobre os plurais significados do “significante” Política, matéria tão importante, mas infelizmente tão simbólica e um tanto quanto desacreditada, para muitos, não sem razão, vista muito mais como a arte de se manter no poder do que fazer uso deste para atender as necessidades do povo;

3. Se o homem é um ser (animal) eminentemente político (Aristóteles), porque se convive, comunica, relaciona e estabelece vínculos na sua vida em sociedade, evidentemente que a regulação social acaba impondo necessidade de regulação pela presença do Estado, o que faz através de um determinado sistema político, de uma determinada estrutura política, conforme prescrito e estruturado na Constituição, isso nos ditos Estados Democráticos de Direito;

4. Ainda que vivenciamos a “crise da representatividade” e pareçamos ter a nítida impressão de que a falta de educação do povo faz com que as escolhas realizadas,por vezes, estejam longe de priorizar as opções mais adequadas ao interesse da população, salvo a quem interessar viver na escuridão da “caverna” da ditadura, por mais vícios que possua, fundamental que devamos, todos, apostar na democracia, buscando sempre aprimorar o seu funcionamento, o que não se faz sem duas palavras fundamentais: consciência e participação;

5. Nesse contexto, a Política nada mais é do que um instrumento para convivência coletiva, ferramenta indispensável para administração do interesse público em prol das necessidades maiores do conjunto da população. Serviços de relevância pública e interesse geral, tais como saúde, educação, moradia, saneamento, justiça, segurança pública, previdência social, meio ambiente, tributos, jornada trabalhista, benefícios da assistência social, eficientes meios de transporte, quantidade e qualidade de legislação, fiscalização do Executivo, crença em instituições responsáveis e confiáveis, probidade administrativa, dívida externa, todas estas matérias, seja na administração (Executivo), seja no âmbito do Legislativo, passa pela escolha e pela decisão da soberania popular, exercida através do voto direto e secreto, como previsto constitucionalmente;

6. Problema é que a frustração sucessiva para construção deste projeto de sociedade, medida que parece consolidada e um tanto quanto sedimentada, mesmo em democracias recentes como a nossa, carrega o gosto amargo do (des) engano, do desencanto, da decepção, vale dizer, a incapacidade da política corresponder às reais necessidades e ao interesse da maior parte da sociedade de um país de quase 200 milhões de pessoas, pleno de carências e vulnerabilidades, uma nação que foi colônia de Portugal, que experimentou séculos de escravidão, históricos de crise, mas que, sobretudo, precisa ser sentida, ainda que no plano imaginário, como “pátria”, amada como “mãe” gentil por seus filhos, para que aqui paire e brilhe o “sol da liberdade em raios fulgidos”;

7. É claro que ainda falta muito para que o projeto da Constituição Brasileira, delineado no seu artigo 3o, seja alcançado, mas é justamente que para ele se aperfeiçoe que precisamos periodicamente da Política, ainda que esta se faça com vícios, com deficiências, que precise ser aprimorada, repensada e refletida; tudo que não se pode fazer é desacreditar na possibilidade de transformação, na fatalidade das coisas, pois, verdade seja dita, as opções que não trazem a governabilidade ou a produção legiferante adequada também passam pela chancela e responsabilidade popular; por maior que seja a (des) ilusão, o Executivo e Legislativo que temos é espelho da escolha popular, ainda que saibamos que esta é terrivelmente influenciada não só pelo poder econômico, pela compra de voto, pela manipulação dos fatos pela mídia, mais do que isso, pelas pesquisas eleitorais, instrumento último que num pais de modernidade tardia e de baixa auto-estima como o nosso mais parece induzir do que esclarecer;

8. Nessa ótica, é de se perguntar se a saudável Lei do Ficha Limpa, medida de brilhante mobilização e iniciativa popular, que recentemente teve sua validade e eficácia discutida pelo Supremo Tribunal Federal (num empate cheio de indefinição), não acaba sendo um atestado da absoluta falta de aposta na capacidade do povo brasileiro propiciar resposta pedagógica e consciente nas urnas para o fim de excluir, pelo voto, como deveria de ser, qualquer tipo de mandato, justamente os candidatos envolvidos com desonestidade, ineficiência e irregularidades na gestão de recursos públicos propriamente ditos...talvez isso fosse o ideal, a melhor e mais emancipatória resposta, porém assim não acontece;

9. De outro lado, qual raiz sociológica que explica o fato de determinados agentes políticos comprovadamente envolvidos em casos de corrupção ainda não terem recebido o julgamento definitivo dos seus casos, o qual pode implicar em condenação que suspenda por tempo determinado os seus direitos políticos (ativo – de votar; passivo – de ser votado)? Por que não existe prioridade do Poder Judiciário no julgamento desses casos? Será que não tem algo de errado num sistema que conta nos dedos da mão a responsabilização derradeira de agentes políticos e parlamentares acusados de crimes ou chamados à responsabilidade pela improbidade administrativa? Nesse contexto, a Lei do Ficha Limpa parece um “atalho” necessário para a realidade que vivenciamos, mas seu propósito moralista e de excelentes intenções talvez esconda, no meio do caminho, o maior lado do problema, leia-se, falta de educação e formação para cidadania do povo brasileiro fazer boas e democráticas escolhas, além de cobrança para que o Poder Judiciário brasileiro, uma vez demandado, seja eficaz na responsabilização e julgamento definitivo dos políticos envolvidos e submetidos à apuração, tudo o que não temos...Ainda que a eleição de critérios de elegibilidade que considerem a “vida pregressa do candidato” nada mais seja do que uma prescrição coerente com a dicção do artigo 14, parágrafo nono, da Constituição, na antecipação e na necessidade de filtro da democracia, talvez aí esteja um assunto que precisamos melhor discutir e resolver;

10. Certo é que a muitos (não poucos) interessa denegrir e desacreditar a boa Política, atividade que, mais do que nunca, precisa ser feita com “p” maiúsculo, com vocação para discussão dos temas de interesse social, o que lamentavelmente ocorre a cada quatro anos, muitas vezes sem um projeto definido, como é o caso dos atuais candidatos preferidos das “pesquisas” para a Presidência da República (pode?).

11. A verdade é que a muitos interessa desestimular a população a participar do processo político, dos canais da democracia, que, apesar das deficiências, do descompasso existente entre teoria e prática, precisa ser urdida não apenas por famigerados, plurais e hoje um tanto quanto corrompidos e enfraquecidos partidos políticos (polarizadas que estão as forças entre duas ou três agremiações, numa reforma política que nunca chega), mas principalmente pela força vida da sociedade civil e dos seus movimentos sociais...

12. Pena que discutir os maiores interesses da sociedade brasileira, pena que debater a democracia e as necessidades do país, de cada Estado ou unidade federativa, ainda não seja missão rotineira e permanente, seja nas instâncias dos poderes constituídos, seja na percepção e pressão a ser exercida pela sociedade civil...os espaços e oportunidades já estão aí, já é possível achar e exercer juízo critico sem risco de amanhecer e não ser mais encontrado, porém a estrada ainda é longa, sinuosa e precisa de longas placas de sinalização e instrução sobre o conceito de cidadania, pressuposto para que tenhamos uma democracia de verdade;

13. Por essas e outras, amigo (e) leitor, que a Transparência Brasil presta um enorme serviço à sociedade brasileira, por exemplo, quando disponibiliza, em seu sítio eletrônico (www.excelencias.org.br), ficha completa com dados patrimoniais, histórico legislativo, histórico de envolvimentos e denúncias de irregularidades noticiados na imprensa, interesses, principais financiadores, enfim, todos os dados da “caixa preta” do patrimônio de cada um os candidatos ao parlamento brasileiro...acesse, confira, divulgue! São tantos os (des) caminhos entre política e poder que precisamos apostar na capacidade de observação popular sobre o que acontece...

14. De resto, que venha mais uma Eleição...que o povo brasileiro assuma e se responsabilize pelas suas escolhas, certas ou erradas, na melhor matriz existencialista....que a atenção para as questões de interesse geral e público e a necessária pauta ética que deve reger as instituições do Executivo e do Legislativo não fiquem esquecidas da própria população, distante da ocupação dos meios de comunicação social.... que cada cidadão brasileiro tenha a consciência não apenas do “voto consciente”, mas da necessidade de fazer valer e monitorar de modo permanente o que é feito com a gestão dos seus próprios interesses, a percepção de que não adianta se alienar ou se distanciar da política, especialmente quando se é governado e administrado por ela, máxime quando a alteridade obriga que eu enxergue na minha escolha resultados para aquela parcela da população que mais precisa e depende do probo funcionamento das instituições, não de agentes que lá estejam para o auto-benefício...Política precisa representar liberdade, oportunidade de cada cidadão viver dentro de um Estado que lhe permita ter o mínimo de dignidade e de estrutura para buscar a sua própria felicidade...Ser “político”, na matriz verdadeira do adjetivo/substantivo, precisa carregar o significado de ser cidadão, de apostar na democracia, de pensar e refletir sobre tudo aquilo que é “público”, que precisa ser feito para o povo...Ou nos apercebemos logo disso ou continuaremos experimentando “mais do mesmo”, provando do mesmo veneno que até aqui, em maior ou menor grau, como o mito da Medusa, paralisa a possibilidade de transformação verdadeira da sociedade brasileira enfrentar e derrubar o “muro” dos seus problemas, o dito e anunciado “Brasil profundo”, mistério que ainda precisa ser descoberto e revelado, individual e coletivamente, necessariamente fazendo Política, como que cantando, abrindo e fechando a democracia do 03 de outubro de 2010 como “oportunidade” que precisa ser vista com algum necessário otimismo, se preciso com a aposta e o resgate da ingenuidade da infância (e a mensagem da "Cuca" de Tarsila pode inspirar...). Não é outra a mensagem de bravura e esperança que sobressai da transposição didática de Martin Fierro...“Aqui me pongo a cantar (...) que ayuden mi pensamiento, les pido en este momento, me refresquen la memória y aclaren mi entendimento (...) cantando me he de morir, cantando me han de enterrar y cantando he de llegar (...) Y si canto de este modo, por encontrarlo oportuno, nos es para mal de ninguno, sino para bien de todos” (José Hernandez - fragmentos compostos de Martin Fierro)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Limite de propriedade rural: uma alternativa para reforma agrária?




1. Por mais incrível e assustador que pareça, há quem pense que a causa da terra e da luta por efetiva reforma agrária não é uma prioridade nos (des) caminhos da República brasileira. Até mesmo no discurso necessários dos direitos humanos o tema parece um tanto quanto esvaziado...a ver.

2. 2. A temática da reforma agrária os mais ferrenhos racionalistas e “idiotas da objetividade” (Lobão), mesmo os homogêneos “pingüins” (Warat) dos interesses dominantes, deveriam ter em conta os dados comprobatórios de que, desde a colônia, desde o império, a concentração fundiária constitui um verdadeiro câncer na construção de um emancipatório projeto de sociedade brasileira. Em tempos de celebrarmos a “independência” (numa história desconhecida ou seletivamente esquecida pela maior parte da população), talvez seja o momento de pensarmos um pouco nisso. Lutar pela reforma agrária, por (re) distribuição das terras deveria ser um necessário e positivo clichê, um lugar-comum, mas infelizmente assim não acontece, ao contrário, movimentos sociais que levantam esta bandeira não raras vezes são criminalizados por suas ações, verdadeiramente colocados à margem...

3. 3.Não por acaso as instâncias políticas e estatais estão terrivelmente infestadas de personagens e bancadas representativas de interesses patrimoniais egoísticos de mercado, mesmo nos espaços onde a pauta de reivindicação deveria guardar coerência com as reais e existenciais pretensões da sociedade civil. A microfísica do poder (Foucault) as vezes parece estar próxima de tudo, menos dos verdadeiros e necessários anseios eminentemente sociais...sobra ranço e falta espírito critico na discussão deste problema nacional e, por conta disso, a sensação não pode ser outra a não ser de dupla crise: de representatividade e legitimidade.

4. 4. Recentemente, importante mobilização social tornou a dar voz e, porque não, uma certa dose de esperança para discussão e enfrentamento deste grave problema (http://www.limitedaterra.org.br).Conheça!

5. 5. A ideia é propor discussão e estabelecimento da alternativa de imposição de limite à propriedade rural no Brasil a partir de um número máximo de módulos fiscais. Ainda que a pretensão porventura não alcance nova formatação constitucional), se servir para problematizar a efetividade do que hoje temos como normatividade e política de Reforma Agrária (muito ou pouco, depende da perspectiva), talvez já tenha um grande e transformador sentido.

6. 6. O módulo fiscal é uma referência estabelecida pelo INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) cuja dimensão é variável em cada região e localidade brasileira de acordo com várias regras e indicadores, dentre as quais a situação geográfica, qualidade do solo, relevo, condições de acesso.

7. 7. Num pais de quase 190 milhões (esperamos o CENSO 2010), mexer nesta estrutura impactaria pouco mais do que 50 mil latifundiários-proprietários de terras...

8. 8. A questão é de Justiça Social voltada a fazer valer a função socioambiental da propriedade, também destinada a assegurar meios de financiamento e de subsistência aos pequenos produtores rurais, que são os que verdadeiramente produzem a maior parte dos alimentos e trabalham para cumprir os objetivos da República (artigo 3o), para quem o Ministério da Agricultura e os Governos mais deviam ter “olhos” e “ouvidos”, porém infelizmente assim não acontece...

9. 9. Pensar no limite de terras a partir de um teto máximo de módulos fiscais (35 unidades) implicaria na (re) descoberta de 200 milhões e hectares para redistribuição, podendo a indenização hoje gasta com reforma agrária permitir outros benefícios para que a sua implementação constitua-se numa realidade....que tal passar o 07 de setembro pensando a perspectiva nacional a partir desta forma de “independência”?

10. 10. Dado do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2006 indica que nada mais nada menos do que 2,8% das propriedades rurais brasileiras são latifúndios e ocupam mais da metade da extensão territorial agricultável no Brasil (56,7%), ainda que os meios de comunicação “social” deste tema não se ocupem.

11. 11. Falar no agronegócio/hidronegócio como eixo para sustentabilidade alimentar é uma grande ignorância, uma cínica falsificação da história, pois estas atividades, na verdade, ocupam-se mesmo primordialmente são da soja, da cana-de-açúcar e eucalipto, tudo o mais que for e puder permitir exportação em larga escala, ao passo em que é a agricultura camponesa familiar que gera 70% dos alimentos produzidos e consumidos pelos brasileiros. O caminho da soberania alimentar, como se vê, é o caminho da reforma agrária, passa longe do agronegócio...

12. 12. Agregar valor à matéria-prima nacional para desenvolvimento da indústria e fortalecimento do mercado interno, essa lamentavelmente não foi e ainda não é uma preocupação dos interesses dominantes... A propósito, a quem será que interessa manter tudo como está?

13. 13. Em tempo de renovação democrática, em época de Eleições 2010, talvez seja o caso de cada cidadão estudar com mais atenção os projetos dos candidatos no enfrentamento do tema, ainda que o conteúdo ou a simples omissão da questão possa ser uma questão imposta pela “ditadura econômica” responsável pelo financiamento das campanhas;

14. 14. Usted, “caro (e) leitor”@, o que pensa de tudo isso?

quinta-feira, 22 de julho de 2010

L’université d’aujourd’hui: “olho” na universidade de hoje...com Derrida


“Cuidado com o que abre a Universidade para o exterior e para o sem-fundo, mas cuidado também com o que, fechando-a em si mesma, não criaria senão um fantasma de cercado, a colocaria à mercê de qualquer interesse ou a tornaria perfeitamente inútil. Cuidado com as finalidades, mas o que seria uma Universidade sem finalidade?” Jacques Derrida – “As pupilas da Universidade”.

1. Num mundo cada vez mais marcado e atravessado pela necessidade de busca de cultura e conhecimento (knowledge), na denominada “era do vazio” (Gilles Lipovetsky), nunca podemos esquecer de repensar e enaltecer o valor macroscópico da universidade enquanto instituição. Afinal, como não falar, hoje, da universidade? Por que não discutirmos a universidade dos dias de hoje?

2. É A universidade, afinal, a ponte de integração entre objeto e sujeitos no caminho filosófico da “consciência” ou da “linguagem”, o prisma que permite que se tenha visão essencial da ciência, a instância interdisciplinar que encontra sua justificativa como palco para acesso a saberes e fazeres necessários para a modificação de nossa cada vez mais perversa e atroz realidade. O desafio é justamente partir deste conceito para verificar se temos hoje, de fato, uma universidade um tanto quanto “insolvente” e incapaz de cumprir responsavelmente com suas finalidades(Darcy Ribeiro), as quais, obviamente, precisam ir muito além do saber tecnológico e científico, buscando o fundamento dos seus fundamentos na cultura civilizatória do infinito, sempre um eterno projeto...

3. Por mais que a razão e a justificativa da universidade, da “academia” criada em meio ao período do Renascimento, esteja na sua origem, no seu próprio sentido, sem dúvida que sua (des) estrutura precisa ser repensada criticamente, tanto na simbiose corpo docente/discente, como, sobretudo, nas suas relações com a sociedade, no seu compromisso e responsabilidade com a formação humanística do futuro, enfim, com uma visão prospectiva do tecido social, algo muito diferente de uma lógica alienante de mercado com (más) intenções que não passam da superfície.

4. Dominar e cultivar os saberes humanos formativos em tempos de esvaziamento e de perda de referencial é a árdua missão da universidade da cambiante e mutante pós-modernidade, para a qual precisamos ter “olhos” bem abertos e críticos, sobretudo.

5. Cristovam Buarque, ao escrever sobre a “aventura da universidade”, pensou esta de modo “tridimensional”, como instituição que deveria estar vocacionada para exercer tríplice gestos de realização da humanidade:

5.1) gesto técnico para manipular e transformar o mundo;

5.2) gesto epistemológico capaz de estimular a contemplação e o conhecimento;

5.3) gesto poético que magnifique a beleza do ‘deserto’ e mostre o prazer do conhecimento.

Essas três qualidades diferentes combinadas podem indicar um pouco do que seria a “universidade total “, algo capaz de estimular a “qualidade criativa” em detrimento da “mediocridade repetitiva” e um tanto quanto utilitarista, lamentavelmente tão presente aqui e acolá.

6. A propósito, num universo do ensino onde o público cada vez tem menos espaço frente ao privado (dados de 2000 indicavam um total aproximado de 1100 instituições de ensino superior – IES das quais 200 são públicas e 900 são privadas), para uma estrutura de acesso ao ensino superior ainda lamentavelmente “seletiva” (o último censo do IBGE revela que o Brasil possui apenas 6 milhões de cidadãos com curso superior), discutir a universidade é renovar a esperança pela formação de uma nova e revolucionária capacidade de cidadania, de mobilização, porque não dizer de modificação de pensamento, de sedimentação de uma cultura identitária e ao mesmo tempo emancipatória.

7. Certo é que investir em pesquisa, em produção científica, é apostar na formação e sabedoria de todo um povo nos seus projetos de futuro, ainda que isso dependa muito mais da qualidade do que da quantidade de trabalhos, algo de que deveria ser considerado para que houvesse menos pressão e opressão acadêmica por “publicações”, atitude que muitas vezes exerce efeito inverso de produzir conhecimento original e transformador, por mais que gere ilusórios dados e estatísticas...Não se pode querer progredir cientificamente por aparência, salvo se o objetivo for produzir uma estatística panfletária incapaz de dizer e traduzir efetiva melhora no “estado de coisas”.

8. Ambiente de descobertas, território de conhecimento, espaço de trama dos arcos da complexa e por vezes conflitante arquitetura do “saber” e do “poder”, certo é que os tempos pós-modernos de capitalismo exacerbado e de busca desvairada de “quantidade” numérica em detrimento da “qualidade”, num ritmo verdadeiramente “industrial”, podem impactar a universidade e o produto do seu resultado, afinal, é muito fácil, assim, legitimar a impostura e a farsa intelectual, especialmente quando um mesmo estudo “camaleão” pode assumir diversos títulos, formas e apresentações...a quem se quer enganar? É assim que legitimaremos a produção e legitimação dos títulos da universidade nos dias de hoje?

9. Há quem queira reforma, a repolitização social do espaço da universidade e das instituições de ensino superior, meios mais justos e equitativos de acesso, mas tudo isso representa apenas uma fração dos muitos temas que precisamos discutir quando falamos da universidade de hoje...

10. A universidade também é espaço da vaidade desmedida, muito longe da auto-estima saudável, vaidade esta que, infelizmente, as vezes é encontrada em muito maior profusão do que a desejável autoridade epistêmica e deôntica, esta sim qualidade própria dos verdadeiros e vocacionados Mestres, aqueles que plantam nos alunos aquilo que adquiriram de melhor, que aceitam a dúvida, que admitem não terem resposta para tudo, que adoram a divergência de posicionamento, professores na melhor acepção da palavra que marcam a passagem de cada um de nós pelo ensino superior, enfim, aqueles que fazem a universidade ainda ter crédito e o respeito institucional de sobra.

11. É justamente a comunidade acadêmica universitária engajada que sabe o quanto de responsabilidade social precisa ser resgatada na universidade, de preferência sob o foco critico “desconstrucionista”, no melhor estilo “derridiano”. Difícil é saber por onde começar...

12. Tal como o espaço escolar precisa ser preenchido e compartilhado com as famílias e comunidades, com elas estabelecendo verdadeiro nexo de pertencimento, da mesma forma a universidade precisa ser o espaço e a lente ajustada e equilibrada pela qual a sociedade pós-moderna vai repensar suas práticas, seus valores, enfim, os rumos e o trajeto para onde quer e deseja caminhar.

13. Dominar e cultivar saberes humanos em tempo de dissolução de referenciais e, mais do que isso, saber distribui-los, rediscuti-los para partilhá-los horizontal e democraticamente em prol de um projeto é um caminho e tato a seguir...por aí também passa o repensar da universidade e de suas relações com a sociedade.

14. Muitas perguntas reflexivas sobre o rumo da universidade podem ser feitas, dentre as quais, por exemplo:

- Como abordar o problema da responsabilidade da qualidade tanto do ensino e da pesquisa universitária num contexto atual de “crise”, no mar de “utilitarismo” sedante?

-Qual o grau de clivagem, de divisão, de fragmentação, entre corpo docente e discente?;

- O que faz uma boa aula? Transmissão de conhecimento ou de experiência?

- Qual é a cadeia identitária performática da universidade dos dias de hoje? Qual a “verdade” a ser buscada? Aliás, será que existe alguma “verdade” a ser buscada?

- Quais os termos e as condições da responsabilidade universitária? Qual a sua axiologia Que equilíbrio hoje temos entre graduação, pesquisa e extensão?

- Quais as fronteiras e os limites da universidade ideal? Quais são suas ideologia, as falas, os discursos dos vícios e das virtudes do ser-universidade?

15. Em suma, como questiona DERRIDA, “qual é a legitimidade desse sistema jurídico-racional e político-jurídico da universidade? (...) essa universidade (...) qual é a necessidade que se tem dela?”. Interrogar as formas de saber e as pretensas verdades, talvez aí esteja um dos seus múltiplos sentidos...

16. Muito melhor que sejamos otimistas repensando a questão do que simplesmente deixarmos as nossas oportunidades e chances civilizatórias no caminho do capitalismo e da nossa ainda um tanto quanto formal democracia, duas grandes idéias vitoriosas e hegemônicas do século XX ainda não postas totalmente à prova, mas pelo menos um pouco mais discutidas...

17. Discurso, fala e leitura capaz de articular teoria e práxis, isso também se espera da universidade, esta milenar instituição que, se antes era responsável pela busca da verdade, agora, com a retirada do véu do alcance impossível, hoje, precisa estruturar-se sobre outras bases. No caso particular do Brasil é de se pensar para onde vai a “autonomia” universitária assentada constitucionalmente... Será que esta autonomia é efetivamente exercida em favor da razão que inspira a universidade como local de convivência da diversidade, seja na graduação, na pesquisa ou no ensino? Será que todas as garantias servem para mostrar que a universidade não pode operar na lógica empresarial ou, pelo contrário, estimulam este desvio de perspectiva?

18. Tramar o arco complexo da arquitetura do saber e do poder para que a universidade seja o ideal espaço de liberdade criativa epistemológica, não mera repetição acrítica da doutrina dos “Mestres”, não uma reducionista cooptação intelectual manipuladora incapaz de conviver com uma desejável estão democrática do ensino capaz de gerar massa intelectual transformadora do Estado Democrático de Direito. Mais do que mera e mecânica transmissão de conhecimento, a universidade precisa ser palco humanizado para debates, espaço de superação da individualidade cega do homem moderno, correia para descoberta do senso de coletividade necessário para uma viver mais e melhor junto.

19.Estabelecer mecanismos e discursos que permitam repensar o princípio e o fim da universidade como instituição produtora e não simplesmente reprodutora de conhecimentos e competências capaz de integrar e superar a dicotomia teórico-prática em benefício de um novo projeto de sociedade. Compreender a universidade e seus corpos como um simples “papel em branco” a ser progressivamente instrumentalizado e funcionalizado na busca de conhecimento transformador da humanidade. Esse o desafio...Mais do que nunca (des) construir é preciso... lição de Derrida.

sábado, 22 de maio de 2010

Ainda os Beatles...40 anos depois



“living is easy with eyes closed - viver é fácil com os olhos fechados

misunderstanding all you see - sem entender tudo o que você vê

it’s getting hard to be someone - está ficando difícil ser alguém

but it all works out(...) - mas tudo parece funcionar bem

it doesn't matter much to me - e isso não importa muito para mim"

(strawberry fields forever)



  1. Eles revolucionaram a música mundial. Compuseram um marco difícil de ser superado em muitas dimensões e direções, mais do que isso, foram um verdadeiro e singular fenômeno.
  2. Os tempos eram justificadamente de histeria, da procura de novos símbolos e significações... Depois da “beatlemania” o mundo nunca mais foi o mesmo. O brilho dos Beatles é a prova viva de que Nietzsche estava particularmente certo ao afirmar que a vida sem música seria um erro. Para muitos, a “maior banda de rock” de todos os tempos é um paradigma imbatível e insuperável, bússola e termômetro do passado que ainda ilumina presente permitindo projeção de um novo futuro....
  3. A personalidade e o pensamento crítico-reflexivo de John Lennon, a musicalidade criativa de Paul McCartney, os bons arranjos de guitarra do também compositor George Harrison e o ritmo firme da alegria contagiante de Ringo Star deixaram, de fato, muita saudade. Já são duros 40 anos sem a lucidez dos Beatles e a impressão é de que nunca haverá tanta genialidade musical reunida.
  4. John e Paul se conheceram em 1957. Juntos, somavam apenas 32 anos. Eram, portanto, precoces na deflagração de uma grande parceria, ainda que posteriormente tumultuada e recheada de brigas. Em 1958 esta próspera dupla Lennon-McCartney é reforçada pelo ingresso de George Harrison, então com 15 anos.
  5. A partir de 1961 mudanças significativas ocorreram com os “Fab Four”. Dali para diante apareceu o grande “manager” Brian Epstein, que assumiu a criação e os mais importantes conceitos de identidade do quarteto mais famoso de todos os tempos. Ao lado de um competente e leal empresário, tiveram os Beatles o produtor musical George Martin, para muitos uma espécie de “quinto” integrante, responsável pela assunção de Ringo Star na bateria. Tinha tudo para dar certo, e assim foi. Estamos falando dos idos de 1962 e o quarteto já estava completo.
  6. Na trajetória de sucesso dos Beatles houve mais de uma dezena de discos (Please Please Me, With the Beatles, A Hard days night, Beatles for sale, Help, Rubber Soul, Revolver, Sargent Peppers Lonely Hearts Club Band, Magical Mistery Tour, The Beatles, Abbey Road e Let it be), álbuns de inúmeros e multifacetados conceitos, marcantes e diferentes capas. Foi mais de uma década fabulosa de letras, ritmo, música e, sobretudo, descobertas.
  7. Eles revolucionaram uma época de muitas transformações e reivindicações, souberam conciliar a condecoração junto à Rainha da Inglaterra com a exótica visita à Índia e, apesar de tudo, tiveram muito mais encontros do que desencontros...
  8. Não por acaso, sinalizaram um caminho singular “across de universe” (aliás, está aí um ótimo filme do gênero musical contemporâneo para reviver e refletir com os Beatles)....As canções partiram do trivial, começaram falando de amor, de romantismo adolescente, mas logo depois já saiam dos chavões juvenis apelativos do “please please me”, do “love me do”, do “can’t buy me love”, do “i wanna hold your hand”m, do “she loves you” para horizontes muito mais críticos, para letras um tanto quando densas e reflexivas sobre os conturbados anos 60, tempo de Vietnã, de busca dos direitos civis, de Luther King, da revolução cultura chinesa, dos progressos espaciais russos, e de tanta coisa mais, algo bem propício para que se pensasse em “help”... No ápice da efervescência cultural dos Beatles, não é difícil compreender suas canções como verdadeiras aulas de crítica social, de sociologia, de metafísica, de espiritualidade e, porque não, de muita filosofia, de lição de vida... Afinal, é exatamente dessa possibilidade de múltiplas interpretações e versões que se alimentam os clássicos.
  9. Os Beatles marcaram a história... deram vida, cor e sensibilidade a uma geração toda de pós-guerra, que queria muito mais do que “a day in the life” (“i saw a film today, oh boy..the english army had just won the war..a crowd of people turn away, but i just had to look... uma sociedade que pretendia libertação, não se contentava com o que tinha, que aspirava mudar e revolucionar o mundo (“you said you want a revolution... well you know, we all want to change the world...you tell me that it’s evolution... well, you know, we all want to change the world...
  10. O engajamento rebelde e positivamente transgressor dos Beatles permitiu que o sentido e o “recado” da banda representasse arte para além do palco e dos sucessos nas rádios. Os Beatles inovaram conceitos, invadiram o cinema, fizeram filmes de vários gêneros, incluindo desenhos animados, souberam direcionar o talento para encantar e hipnotizar toda uma geração, ensinando-a a atravessar a “hard days night” pela “faixa de segurança” da Abbey Road, sem esquecer da fantasia infantil do “yellow submarine”... and “the magical mistery tour”. Com eles aprendemos que a vida guarda coincidências e muitas surpresas, tudo depende de onde e como se está. Não por caso esses célebres britânicos permanecem no imaginário coletivo da música mundial com uma atualidade impressionante e inquestionável: a marca da imortalidade.
  11. Ouvir Beatles, mais do que resgatar uma febre nostálgica do passado, é não só viajar no tempo mas, sobretudo, aprender meios de superar, com sensibilidade, os muitos momentos difíceis da existência, saber buscar força na frustração... Com Beatles podemos ir da reflexão pessimista ao otimismo desenfreado, firme na crença de que nunca, por nada, devemos nos deixar derrubar. Se alguém duvidar, que ouça a busca de forças de aprimoramento nas estrofes simétricas de “Hey Jude”... saiba esperar o calor da hora da chegada do sol para ver que dará tudo certo (“he comes the sun”), sem esquecer de experimentar a melódica ideia de perseverança acima de tudo (“don’t let me down”). Fugindo do senso comum e do cotidiano, os Beatles deixaram mensagem, a sabedoria de saber que tudo pode ser transformado, modificado, a depender da forma como enxergamos as coisas, do prisma, desafio de paralaxe....
  12. De Liverpool para o mundo, do “Cavern Club” para a BBC e os estádios de futebol, certamente não são poucos os qualificativos que fizeram (e fazem) dos Beatles, para muitos, simplesmente o maior conjunto musical de todos os tempos!
  13. Eles definitivamente puderam dizer muito mais do que as coisas de todos os dias (things we said today), proporcionando uma experiência musical até então inédita e extraordinária. Sentir os Beatles é mais ou menos como começar uma viagem sem fim, cheia de dúvidas, criatividade, sinais de de duplo sentido (“Lucy in the Sky with Diamonds...tangerine trees and marmalade skies” - precisa dizer mais?)
  14. Partir de uma música triste para algo melhor, saber enfrentar a vida com coragem, superar dificuldades sem medo, apanhar, colher, encontrar, conquistar, aprender sempre a melhorar, por aí se vê apenas algumas passagens de um grande aprendizado..”hey jude, don’t make it bad, take a sad song and make it better, remember, to let her into your heart, then you can start to make it better (...) hey jude, don’t be afraid, you were made to go out and get her.
  15. Até mesmo a busca de um melhor caminho para a humanidade, com Beatles, pode ser um pouco mais fácil do que parece. Quem sabe uma fração importante do tanto que hoje nos falta esteja em lembrarmos de ter um pouco mais de “amor” e olhos pelo outro, na diferença, na convicção humilde de que “there’s nothing you can make that can’t be made. No one you can save that can’t be saved. Nothing you can do, but you cant learn how to be you in time...it’s easy. Nunca é demais lembrar que ainda estamos longe de viver tempos de paz...
  16. Embora haja muita polêmica sobre as causas do fim e da separação dos Beatles (abril de 1970), ainda que a busca desesperada de culpa oscile do ingresso de Yoko Ono na vida de John Lennon à vaidade egoísta e antiética de Paul MacCartney na busca de sua carreira solo, entre diversas outras versões, o fato é que eles tiveram o mesmo fim, o mesmo ponto final que existe para tudo que um dia começa... A finitude que permite a atribuição de sentido (Heidegger), inclusive, para os 40 anos de saudade e de paciente espera para que algo de novo possa acontecer na música mundial...
  17. Não esqueçamos porém que a música não vem isolada do seu contexto e das suas circunstâncias... e nesses tempos difíceis, a falta de novos “Beatles” não são nada mais do que reflexo da pós-contemporaneidade, período em que nos falta "pertencimento" na mesma proporção doente que nos sobra alienação e desvio de perspectiva.
  18. Enfim, com os Beatles reside uma parte de toda nossa grande angústia, a lição e o desafio do porvir, de nossas históricas e existências. All we need is love! Ou será que precisamos de uma mensagem melhor para o mundo de disputa atômica, do capitalismo desenfreado, de cega intolerância racial, étnico-religiosa, da destruição do planeta pela contínua e desvairada devastação ambiental?
  19. E por falar em amor, amar os Beatles, mais do que tudo, “it’s a love that last forever, it's a love that has no past” (é um amor que dura para sempre, um amor que não tem passado). Já se foram 40 anos e o legado do quarteto continua transcendendo, teimosamente embalando e oxigenando os anseios das novas gerações...

domingo, 9 de maio de 2010

"Sociologizando" sobre a “arte” do “viver junto”: legado de Roland Barthes




“tomaremos o viver junto como fato essencialmente espacial (viver num mesmo lugar)... em estado bruto, o viver junto é também temporal” (Roland Barthes)

“O que eu quero é que o engajamento e o vazio - postos juntos - criem um sentido” Thomas Hirchhom

1. Certa feita já se disse que se alguém pode ser qualquer um, todo e qualquer um também pode ser alguém. Tudo depende do “script” e dos papéis, de “onde” e “como” cada indivíduo encara a responsabilidade do seu existir, do seu atuar cotidiano, esteja ele agindo só ou, especialmente, experimentando a vida gregária. Hora de pensar na “contemporaneidade”, colocar Roland Barthes "debaixo do braço" e aproveitar a relatividade do tempo e do espaço para (re) pensar e (re) projetar os termos do nosso atual “contrato social” (Rousseau), que talvez já esteja clamando por uma revisão. Afinal, não se desconhece todos nós precisamos de um vínculo em comunidade (Ahlam Shibli). A questão é: "how to live together"?

2. Vivenciamos duros tempos pós-modernos de individualismo exacerbado, de impaciência, de angústia, de escassa e mínima solidariedade. Os elos sociais estão cada vez mais atenuados. Pensar em si soa quase como monolítica obrigação, verdadeiro imperativo categórico (Kant). Definitivamente, o contexto dá a falsa impressão de que não compensa atuar coletivamente. Dilui-se, cada vez mais, reconhecimento da importância da vida em comunidade (o filme argentino “Luna de Avellaneda”, a propósito, propicia uma qualificada reflexão nesse sentido).

3. A impressão que é que estamos perdendo a coesão social e, nesse contexto, aprender a “viver junto” parece ser cada vez mais difícil. Precisamos de uma solução política que melhore e estimule o bem-viver e a convivência em todos os níveis, enfim, algo precisa se mover no (des) encaixar de peças da (des) agregação. Entre ordem e caos, do individual ao social, há de se encontrar o ponto de equilíbrio.

4. Os subsistemas família (socialização primária) e escola (socialização secundária) ainda não assimilaram as mudanças e transformações paradigmáticas necessárias, estando ambos em crise e à espera de necessária e urgente reformulação. Fazer com que a família esteja funcionalizada para estabelecimento das margens e dos limites necessários, bem como propiciar reconstrução do processo “ensino-aprendizagem” com internacionalização de diferencial pedagógico para aqueles alunos que não se enquadram nos formatos convencionais, sem dúvida, são dois enormes desafios que temos pela frente, seja para o núcleo familiar, seja para a escola. A família e a escola, aliás, mais do que nunca, precisam articular-se na ótica do “viver junto”.

5. Apesar disso teimamos e hesitamos... Reproduzimos, de modo automático e acrítico, já há algum tempo, pretéritos e embolorados pensamentos, assumimos atitudes impostoras de senso comum e, por isso, somos incapazes de reconhecermos a visibilidade do “outro” que, quanto mais próximo, mais real, mais “terrorifica” nosso existir "de rebanho" (Nietzsche). Ou buscamos um foco comunitário baseado na alteridade ou então seremos permanentes “estrangeiros” de nós mesmos.

6. Há de se enfrentar, com saber e sabedoria, o desafio conciliador da busca moderna mítica e utópica da razão com o imprevisível com o imaginário do cotidiano, ao sabor dos acontecimentos não planejados, dircernindo teoria da aplicação prática, tudo com a prevalência da criatividade sobre a “standartização”, certos de que a estabilidade e segurança desejadas devem ficar no campo do inalcançável, eterno devir...

7. Nesse balanço, hora de "sociologizar" e discutir qual é o ponto de gravidade central nas relações sociais, se conflito (luta), cooperação ou outra alternativa. Onde é que crescemos mais e em quais alternativas apostamos para aprendermos a compartilhar a existência, para cada um assumir o protagonismo da sua própria história.

8. É justamente partindo da análise das relações sociais como verdadeiro campo de interação e integração de sensações individuais e coletivas, de objetivos e subjetividades que, mais do que nunca, precisamos enfrentar os duros problemas dos “novos-velhos” tempos.

9. Violência, drogas, corrupção, desmobilização, perda de valores, tudo passa por verdadeiro processo de desagregação, de perda alienada e gradativa da humanidade derivada da falta de um projeto comum compartilhado, da carência de um mesmo horizonte de sonho para a humanidade.

10. O modelo macroestrutural de sociedade no qual estamos inseridos não está nos ensinando e preservando a convivência, de modo que cada vez mais sabemos menos sobre o segredo e a estratégia de “como viver junto”. Em uma palavra: intolerância.

11. No âmbito de um particular recorte, a sensação é de alienação e de impotência frente a existência de uma enorme demanda de problemas para insuficientes/deficientes políticas públicas, qualquer que seja o viés (quantitativo/qualitativo). Na sociedade de massa, saímos do individual para o coletivo, com perda de subjetividade e sem ganhos....

12. Nessas horas que a sociedade precisa cobrar e mostrar sua voz. As estruturas sociais da família, da escola, dos bairros, dos grupos, das ruas, precisam ser estimuladas, fortalecidas, empoderadas, por mais que muito longe disso ainda estejamos.

13. A grande “matrix” do sistema-mundo precisa de um “choque” revolucionário de humanidade. É hora de fincarmos nossos olhos na realidade “tragédia”, assistirmos e nos preocuparmos com os dramas e a decadência, dos mitos gregos aos super-heróis, do contrário o verdadeiro e incontornável fim pode estar mesmo próximo (Watchmen), especialmente se acabarmos sem uma ideologia para viver, sem um convincente e persuasivo “discurso de justificação”.

14. O perigo parece estar por toda parte. Mais do que os pseudos e simbólicos inimigos passageiros de uma sociedade contemporânea esvaziada de qualificados referenciais (as drogas, as armas, os terroristas etc), o maior risco (e verdadeiro medo) pode estar na lacaniana falta de esperança de um horizonte melhor entre indivíduo e sociedade.

15. Pequenos gestos são necessários. Refletir pode ser o melhor caminho..Logo ali do outro lado da esquina pode estar a chance da grande e necessária“ virada de mesa”, o reencontro do laço perdido no passado, o ponto em que perdemos o sentimento de interdependência, a expectativa e crença na necessidade do “aprender a viver junto” (tema da 27a Bienal de São Paulo, em 2006, prova de que a arte pode ser importante ferramenta para a reconstrução político-social tão almejada, o começo de um novo movimento...

16. O método a seguir precisa ser livre, contando que saibamos onde queremos chegar, desde que possamos fugir do dualismo sujeito-objeto, seguindo o percurso livre e caótico da linguagem e suas possibilidades. Se conseguirmos ingressar no ciclo de pesquisa de uma nova base para o “viver junto” já terá valido a pena...trata-se apenas de “refletir sobre o que nós estamos fazendo”(Hannah Arendt) e reconhecer o valor da experiência.

17. Fragmentos de um tecido social que precisa ser trabalhado, (re) construído e (re) inventado...custe lo que custe.....espaço para a “imaginação sociológica”, sempre transgressora...

18. Nesse contexto, basta ingressar na complexa causa Israel-Palestina para mostrar as idas e vindas do mundo nas origens e na sua multiplicidade, na investigação sociológica sobre os lugares distintos da história (sempre feita pelos mais fortes) e solidariedade com seus respectivos agentes e sujeitos. Se estamos diante de “refuseniks” ou “trackers” é do jogo, isso está entre as possibilidades...tudo é questão mais de escolha, mais do que origem. Em último grau, trata-se de responder a questão de Barthes: “A que distância devo me manter de meus semelhantes para construir com os outros uma sociabilidade sem alienação?"

19. Buscar uma nova vida coletiva num bloco-mundo cada vez mais verdadeiramente sem fronteiras para a solidariedade é especialmente recomendável, especialmente quando se quer buscar a senha criptografada do “viver junto”, utopia de todos os ciclos da história. Que cada um possa ir “sociologizando” e refletindo à sua maneira no percurso da sua existência, de preferência sem perder a dimensão da comunidade, da permanente e desafiadora busca de novos parâmetros para inspirar nova circularidade para o “viver junto”, tal como já fez Roland Barthes...