“De fato, são poucos os acadêmicos, jornalistas, políticos que tentam escapar ao peso intelectual de suas castas e que recusam o mimetismo dos preconceitos estabelecidos. Poucos, pois é difícil, até mesmo perigoso, não ter o cheiro da matilha”. Michel Maffesoli
1. Fugir do sedante e monolítico Pensamento Oficial. Sentir-se um pouco fora da “onda”, nadar contra a corrente, mesmo correndo o risco de sentir-se estranho, alheio ao pertencimento do senso comum panfletário, quando não propriamente excluído da tribo global pós-moderna: essas algumas ideias centrais vinculadas à grande figura intelectual do estudioso francês Michel Maffesoli.
2 Estigmatizado por ideias originais (e ousadas), Maffesoli é a prova mais pura e simples de que ser autêntico e preocupar-se com o “viver junto” é um dos grandes desafios da sociedade contemporânea, um tanto quanto à deriva.
3. Pensar “diferente” antes de tudo é refletir criticamente sobre o mundo, por mais que muitos disso tenham medo, especialmente quando vige um “conformismo lógico”.
4. Em tempo de desagregação e perda de referenciais, a capacidade subversiva de Maffesoli pode ser um grande e espetacular prisma para se obter outras e novas perspectivas...Je regarde.....
5. Particularmente interessante é compreender que a existência passa não só pela vivência no mundo, mas pelo que nele experimentamos e, sobretudo, transformamos! O poder e os instrumentos, mais ou menos visíveis, estão ao nosso alcance. Restar querer deles fazer uso, aventurar e descobrir.
6. Em tempo de superaquecimento global, destruição contínua do meio ambiente, idolatria do “Deus” invisível mercado, de incerteza política quanto ao lado que se quer seguir, pensar na vida como algo que precisa valer a pena para melhorar a vida “do outro” que me espera ali do lado pode ser proveitoso e regenerador caminho para a humanidade.
7. Humanidade cotidianamente testada com a frivolidade e com a brutalidade da indiferença, marcas de um corpo social heterogêneo que não sabe o que quer, nem mesmo pensa e reflete sobre onde (não) está conseguindo chegar.
8, Ler (e sentir) o texto áspero e cru de Maffesoli significa aceitar confirmações sutis e duvidar de planas verdades, é despertar para a vida e acordar na percepção lúcida de que “cada um de nós precisa urgentemente fazer o melhor de sua parte”. Os tempos são extraordinariamente difíceis...é preciso inventar uma nova forma de “ser” e “fazer”...
9. Basta olhar para o lado para perceber que a luta contra o poder econômico e a grande imprensa é justa, necessária, porém absurdamente difícil e desigual...Qualquer pequena tentativa de mudança (revolução) transformação que deixe de lado interesses econômicos para valorização da força popular são sufocadas e abafadas com estocadas midiáticas permanentes de um sistema-mundo cada vez mais “domesticado” que não aceita ciclo-reverso.
10. Ou alguém acha que é por acaso que a “vala dos dois mil cadáveres” da Colômbia não rendeu notícia para “correr o mundo”...Que dizer do “discernimento” do povo colombiano que ainda tem Uribe como solução de futuro pela sua popularidade...Que os venezuelanos possam fazer (e mostrar) diferente...Na América Latina idealizada pelo artista plástico Torres Garcia, resta saber se “o sul é realmente o norte”...
11. Definitivamente, para entender o que pasa entre a Venezuela e a Colômbia, entre o conservadorismo “vendido” ao estrangeiro e o sonho de mudança popular enraizado, só mesmo “maffesoliando”, cada um à sua maneira, no melhor da subjetividade e na autenticidade, qualidades passíveis de serem satisfeitas e preenchidas no caminho simples cada um exercitar o melhor do seu “eu”, do seu imaginário, verdadeiro “lençol freático” da alma.. Afinal, como também ensina Maffesoli: a experiência do pensamento só tem sentido quando coletiva, afinal de contas, nada pode fazer calar a fala necessária. E você, fino leitor, o que acha?
Caro Márcio
ResponderExcluirComungamos sobre a errância do pensamento em Maffesoli a fim de se compreender um mundo sempre em transição. A estética da alteridade, a tragédio, o estar-junto, a vida considerada como uma obra de arte (barroca) demonstra que a preocupação com a vida cotidiana não precisa estar "presa" em explicações causais e abstratas. Descrever o mundo não é um abandono do intelecto, mas significa mudança de perspectiva, como afirma o próprio Maffesoli. Essas inquietações não vão cessar, mas irão nos permitir compreender a vida como uma experiência que somente tem significado JUNTO A ALGUEM (que necessariamente não é uma pessoa). E o que o Direito pensa disso?
Dileto amigo...
ResponderExcluir... digo que é sempre bom estabelecer um tempo para ler tuas “falas”.
Posso afirmar que este olhar, que tens é avesso às constatações cotidianas de uma maioria, que estabelece um “nadismo” que não nos encaminha a lugar algum, a não ser a um caminho de interlocução com o caos – um caos nada produtivo ou criativo, aliás, como já escrevi totalmente aniquilante e esvaziado – niilista, mesmo.
No dia a dia, temos a sensação de que o capitalismo triunfou, de que toda e qualquer tentativa, existencial, é um olhar para o nada... temos de engendrar um novo existir, para evitar um esgotamento total do real...então o que nos resta é respirar fundo e considerar que necessitamos ir para um outro estágio...como disse o próprio Michel Maffesoli, em entrevista ao Jornal do Brasil...”...Michel Foucault e outros pensadores mostraram que a cada quatro séculos, mais ou menos, acontece um cansaço, uma saturação, uma usura das maneiras de viver e pensar. Estamos vivendo uma destas usuras. Algo como “a maquinaria funcionou, agora vamos passar a outra coisa””.
É sempre bom perceber que tu tentas constantemente nos levar a refletir sobre este novo repensar da maneira de viver...
Obrigada!