“Não deixem que lhes roubem a esperança” (Mário Jorge Bergoglio, 1936-2025).
Jorge Mario Bergoglio, aos 88 anos, o primeiro Papa latino-americano, recém partiu e, mais do que deixar saudade, prestou um grande serviço não apenas à Igreja Católica, mas para a humanidade.
O duenésimo sexagésimo sexto Papa, que resolveu homenagear São Francisco com a sua denominação, o “padroeiro dos pobres” e preocupado com a ecologia integral, autenticidade que o livrou da continuidade dos números romanos, deixou um poderoso legado de crítica social e econômica. Não por acaso, fala-se em uma “economia de Francisco”, uma economia solidária preocupada com a vida e com a promoção do ser humano.
A “economia de Deus”, para o “Papa Francisco”, não mata, não descarta e nem esmaga, tudo que a “globalização da indiferença” e do capitalismo opressor e excludente não faz, todas horas, todos os dias.
Preocupado com os “condenados da terra” e das muitas guerras, com a preocupante devastação do meio ambiente pela evidente situação climática e diversos outros atos predatórios dos ditos humanos, com a necessidade de diálogo para abertura dos horizontes da juventude, com os migrantes e com os muitos excluídos do capital, o primeiro papa não europeu era, de fato, era preocupado com o “sul do mundo”, desde o “fim do mundo”, como ele mesmo anunciou.
Embora não se possa dizer que tenha sido, na origem, um Teólogo de Libertação, a sua práxis teve muitos momentos de “Libertação”, na ideia de que siamo fratelli tutti, de que realmente somos todos irmãos.
Tratava-se de um “santo padre” posicionado na geopolítica mundial que, além de gostar de futebol e preferir um tango à música clássica, buscava transformações e mudanças, defensor de uma “Igreja em saída”, uma Igreja aberta e disposta a encontrar, cuidar e acolher a tod@s.
A começar pela exemplaridade de se despir dos luxos e vaidades da vida do maior líder religioso católico, atitude realmente diferenciada que fez dele o “primeiro” também nesse aspecto, um solitário capaz de rezar e pregar sozinho se preciso fosse, como fez numa de suas imagens mais marcantes, quando discursou em 27 de março de 2020 para uma Praça de São Pedro retumbantemente vazia por conta do contexto pandêmico.
Francisco, que pisou chãos inédito para um Papa, também foi entusiasta e protagonista do necessário diálogo inter-religioso, defensor de uma fraternidade e de uma religiosidade universal, algo fundamental em tempo em que ainda existem, por diversos outros meios, outros tipos de guerras religiosas igualmente nocivas à humanidade, movidas pela segregação e pelo ódio.
O simbolismo da sua data de partida, um dia após a celebração de Páscoa, diz muito sobre a sua missão hermenêutica corajosamente cumprida: com seu estilo de certo modo inédito, carismático e sempre acolhedor, “ressuscitou”, em muitos termos e dimensões, com diversos acertos, a própria Igreja Católica.
Sem dúvida, nos seus doze anos de pontificado (2013-2025), deixa um legado de cuidado com os marginalizados e mais vulneráveis, de rejeição à violência de todo tipo (inclusive contra mulheres e crianças), de respeito à diferença, aposta na paz e, sobretudo, esperança.
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