“(...) o mundo foi rodando, nas patas do meu cavalo, e nos sonhos que fui sonhando, as visões se clareando, as visões se clareando, até que um dia acordei (Geraldo Vandré)
“Do que vale olhar sem ver?” (Johann Wolfgang Von Goethe)
- Em tempo de opressão da “grande mídia”, simples passeio tópico pelo noticiário cotidiano mostra o quanto estamos imersos em pautas cheias de ideias vazias, contaminados por uma imprensa de memória curta, horizontal (não propriamente na igualdade, mas na superficialidade do conteúdo) e cuidadosamente “seletiva”...
- A sistemática necessidade de reprodução do pensamento dominante no sistema-mundo não poderia encontrar fluxo mais fácil e livre de qualquer reflexão do que a assepsia dos meios dominantes de comunicação social (social? será mesmo?);
- Se a notícia deveria valer pela informação e aprendizado que contém, a regra que assistimos é a mera transmissão de um fato sem a devida exploração das causas e recortes críticos que o tema comportaria;
- Ainda que algumas informações possam queimar como fogo em jornal, não é preciso passar muito tempo para que tudo vire brasa, sem direito a “retrospectiva”;
- Fala-se em cidadania, em democracia, mas pouco se mostra do absurdo que cerca cada caso. Mesmo o que tem início, perde sua informação lá no meio, num fim que nunca chega...
- A reprodução histérica e incessante de uma mesma notícia sob o mesmo enfoque sem profundidade de conteúdo é algo tedioso, quando não propriamente abominável, tendo um sentido muito mais de dominação do que efetiva “informação”, os exemplos estão aí;
- Crimes violentos perpetrados sem reflexão sobre o motivo de tanta barbárie na dita sociedade pós-moderna civilizada, mas o que vale (vende) é a histeria de cada caso, de cada crime, as vidas ali em jogo destroçadas, não o contexto...Até mesmo quando se trata de fazer a cobertura de um Júri popular de repercussão, perde-se o espaço da essência, de discussão e esclarecimento sobre o macro (funcionamento do Tribunal, se deve ser mantido ou não, se poderia ser ampliado para outros crimes, se a fundamentação das decisões viola ou não a Constituição) para ficar no micro, no particular, nos detalhes do caso, etc;
- Que dizer do caso do “Mr. Arruda”, eleito para o Governo do DF depois de ter comprovadamente mentido no escândalo e participação no episódio da “violação do painel do Senado”, temática esquecida pela mídia gorda, tanto assim ao ponto da Revista Veja (cada vez mais um amontoado de papel cegamente conservador e reacionário) ter lhe dedicado uma capa dias poucos dias antes falando de sua “volta por cima” (aham...vai nessa!);
- Entre rádio, internet e tv, sem dúvida que esta última é o meio que mais aliena e desinforma. Nada mais se trata do que uma constatação. Por conta disso todos nós somos um pouco “vidiotas”, como na literatura de Jerzi Kosinki previu...com a diferença que não estamos cuidando do nosso “jardim”, mas tão-só da televisão...
- Em suma, há uma total falta de sentido social no controle dos meios de comunicação e, enquanto isso, valores, sistemas e espaços de participação popular seguem sendo ilustres desconhecidos, como os conselhos sociais, as regras básicas da integralidade e gratuidade do SUS (Sistema Único de Saúde), a necessária rede de proteção da infância e juventude, o direito de vagas na educação infantil com parte do ensino fundamental e muito mais;
- Infelizmente, na raiz das coisas e dos problemas, da (des) esperança costumeira, ainda mais em ano de Eleição, está a constatação de que falta responsabilidade dos meios de imprensa, a verificação de que ainda pagamos o preço do “jornalismo canalha”, conforme lição de José Arbex Jr;
- A velha máxima de que o brasileiro tem “memória curta” é mais viva, cultural e real do que nunca, especialmente quando se constata que José Roberto Arruda ganhou mandato no Executivo, o mesmo tendo ocorrido no Legislativo em relação a Fernando Collor e Paulo Maluf, e assim poderíamos citar outros tantos casos...(e família Sarney, toda de volta ao poder, dizer o quê?)
- Por que será que a memória da imprensa é tão “seletiva”? Por que as grandes redes de comunicação do país deixam tanto de lado a “verdade”? Qual o (des) caminho de tanta “manipulação”?
- Certo é que alguma coisa precisa mudar na regulação dos meios de comunicação social...há de se determinar o que não pode ser esquecido, o que precisa ser lembrado, até mesmo como aprendizado histórico (trata-se de continuar a aprender com o passado, o que não se faz sem um jornalismo ético, compromissado e responsável).
- Fala-se todo dia em terremotos, enchentes, mas, em compensação, nada se diz sobre a degradação ambiental de todo dia, do lixo à extração mineral, da poluição hídrica ao leilão das bacias de petróleo...mas, afinal, a quem isso importa quando a mais destacada manchete “da semana” quer mesmo é explorar e quantificar a fortuna do empresário Eike Batista?) E o que dizer do “silêncio” constrangedor da grande mídia sobre o massacre dos pescadores na Bahia de Sepetiba, da degradação ambiental “autorizada” da construção da Usina de Belo Monte?
- Assim como a indiferença e a omissão não deixam de ser uma forma de violência, ainda que não tradicional, salutar que possamos questionar o fato de que a “censura” incide não apenas sobre o que não pode ser visto, mas também sobre o que se quer e se deseja “mostrar”....as vezes de modo explícito, as vezes de forma velada...
- O que dizer do Haiti, país focado sobre o que ele é, não o que ele foi e podia ser..país que pagou alto preço histórico por ter desafiado a escravidão, pleno de miséria e desigualdade, que somente ganha destaque (e temporário, de algumas semanas) por conta de um desastre da natureza, ainda que a verdadeira e maior barbárie ali tenha sido provocada pelo homem, de carne e osso, não raras vezes travestida de “paz”....
- Como afirma Arbex Junior, longe e não raras vezes promíscuas são as relações entre mídia e poder...dias atrás o foco esteve na Itália, mais uma vez com Berlusconi, a duas semanas das Eleições, flagrado e envolvido numa interceptação telefônica mostrando como se dá a regulação e os assuntos do governo com a grande mídia...cosí...
- Cuidado com os conceitos...”censura” não é apenas aquilo que não se vê, mas algo que também se quer mostrar hegemonicamente, num sentido só, sem pluralidade;
- Muito do que o mundo é hoje passa pela omissão dos meios de comunicação, que descumprem explicitamente sua função social...mas cuidado Questionar esse estado de coisas é querer fazer retornar a “censura”....aceitar que tudo assim continue medida autoritária...que bela e paradoxal conceituação.
- Eis o admirável mundo novo Huxley...quanta confusão...que falta faz a verdadeira “democratização” da informação.
- Com bem lembra Michelangelo Bovero, “uma regime não é democrático se não vive uma atmosfera de liberdade, e essa atmosfera não existe se não forem asseguradas as condições mínimas de pluralismo dos e nos meios de informação e persuasão. De que forma? Primeiro, vamos começar proibindo as grandes concentrações da mídia e excluindo da competição política todos que tiverem alguma ligação ou controle, mesmo mínimo, nesse setor”.
- Até mesmo porque a liberdade pressuposta na democracia tem como pré-condição adequado acesso e disseminação de educação e cultura, fundamentais ingredientes para desenvolvimento da cidadania, para o despertar de consciência, para afastamento da alienação que tanto prejudica a construção de um projeto nacional efetivamente voltado ao interesse da coletividade; mas isso não se consegue com a leitura de “Veja”, mas sim com busca de meios contra-hegêmonicos, por exemplo, com disseminação de cultura indígena posta na raiz nacional, com promoção e facilitação ao advento de rádios comunitárias; Mas quem de verdade está disposto a apoiar essas iniciativas? Certamente não a “indústria cultura” pautada pela lógica do mercado;
- Perceba-se, nesse contexto, o quanto importante foi a edição da primeira Conferência Nacional da Comunicação (CONFECON), realizada de 14 a 17 dezembro de 2009, em Brasília, sob o tema “Comunicação: meios para construção de direitos e de cidadania na era digital”, evento, claro, praticamente sabotado e não divulgada pelas grandes “redes de comunicação”, a quem não interessa nenhuma mudança, especialmente se a ideia vigente for a de que a democratização dos meios de comunicação contribui para verdadeira democratização do Brasil (para que se tenha uma ideia, no só sistema brasileiro os Grupos Abril e Globo controlam aproximadamente 150 veículos); nessas horas é de se perguntar até quando a Constituição da República será “letra morta”, afinal, segundo ela, no seu artigo 220, parágrafo quinto, “os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio”); que dizer, então, do que consta nos princípios do artigo 221 da mesma Constituição, dispositivo que deveria ser fiscalizado nas emissoras de rádio e televisão, tudo para que houvesse ”preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas”, “promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente”, “regionalização da produção cultural, artística e jornalística”, “respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família”...
- Por falar em “monopólio da comunicação”, hora de resgatar a história... (um convite, que tal começarmos desbravando “A História Secreta da Rede Globo”, de Daniel Herz, Editora Dom Quixote, Porto Alegre, 2009?; recomenda-se também leitura e acompanhamento dos sítios virtuais do Fórum Nacional de Democratização da Comunicação -http://www.fndc.org.br/, Observatório de Imprensa (http://observatoriodaimprensa.com.br/) e da Abraço (Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária -(http://redeabraco.org.br/)
- Nesse contexto, buscar a implementação de um Conselho Nacional de Comunicação, um dos indicativos da conferência do ano passado, pode ser tudo, menos “censura”; a liberdade de expressão vai muito além do sentido tradicional que a ela a comunicação hegemônica quer atribuir; a comunicação hoje, mais do que nunca, precisa ser compartilhada, precisa criar uma agenda de “responsabilidade social”, o povo precisa cobrar!;
- A emancipadora comunicação social será aquela que permita fugir da “cega necessidade de incontrolados laços econômicos” em busca da “realização programada das possibilidades humanas” (Marcuse); não há liberdade de expressão sem liberdade intelectual, e a lição aqui também é de Spinoza, filósofo holândes que tanto se debruçou sobre a complexa compreensão do que é ser livre;
- Quem detém a (des) informação?...Watch out! Em jogo está a “democratização da comunicação” e sua importância estratégica para mudança do nosso país.
Em um pais onde o BBB eh o programa de maior popularidade, nada mais ha que comentar....
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