segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Cortázar, desemprego na China de Mao e o "sistema vampiro"


Documentário recente no canal BBC emprestou lentes à tenaz e recente desgraça chinesa com o crescimento alarmente (não do "desenvolvimento"), mas, agora, dos índices de desemprego...

Em tempos de crise, cada vez mais derrubado, espancado e desmoralizado o mito do "do livre mercado", a China capitalista experimenta o gosto amargo da sua "prática e contradição", só para não esquecermos da dialética de MAO.

Por mais "simbólico" que seja, fábricas de brinquedos na poluída atmosfera chinesa têm proporcionado milhares de demissões em progressão geométrica, tudo para "diversão" dos banqueiros e eternos chantagistas de plantão, sempre prontos para tentar, no mínimo e mais fugaz prejuízo, extorquir resposta e "pacotes" de apoio do Estado (o mesmo Estado que se mostra invisível para direitos sociais dignos, o que inclui mínima proteção contra o desemprego, contra a precarização das relações de trabalho e muito mais).

Como ensina ZIZEK, em livro no qual, aliás, fala de MAO, "o sinal mais confiável do triunfo ideológico do capitalismo é o virtual desaparecimento da própria palavra nas últimas duas ou três décadas: dos anos 1980 em diante...". Afinal, continua ZIZEK, "a China é hoje o Estado capitalista ideal: liberdade para o capital, com o Estado fazendo o 'trabalho sujo' de controlar os trabalhadores".

Voltando ao documentário, este mostra uma jovem de 25 anos que começou a trabalhar aos 14, deixando o filho com a mãe para vê-lo na frequência incessante de uma vez ao ano, agora impiedosamente desempregada...

E viva o desenfreado capitalismo "comunista" chinês que vai dando o seu irônico recado...

O sistema atual do neoliberalismo cru (e cruel) parece lembrar à pátria de MAO TSÉ-TUNG na qual, de fato, como este já advertia, criou-se campo fértil para que "uma só centelha possa iniciar um incêndio na pradaria"...

O "embalo" do ritmo incessante de crescimento na lógica exclusiva do capital parece estar chegando para cobrar o seu doloroso e massacrante preço.

Como diria MAO, tudo passa por "avaliar corretamente a situação ideal e resolver a questão de como proceder". E agora?

O "pé no freio" da expansão capitalista em solo chinês, mais do que derrubar postos de trabalho, está confirmando a idéia de que o sistema financeiro especulativo estelionatário mundial opera mesmo na lógica do "vampiro", o que lembra um bom conto de CORTÁZAR ("El hijo del vampiro", para quem quiser conferir).

Pior de tudo é saber que crucifixo e punhal de prata provavelmente não servirão para matar a sanha de um efeito represado e de projeção "global"...

Até que outro projeto de sociedade seja possível, como certa feita disse o valioso argentino CORTÁZAR, o vampiro continuará passeando nas galerias do castelo em busca de vivos depósitos de sangue (e emprego)...

O sistema está, cada vez mais faminto ou, diria ainda CORTÁZAR, loco de hambre...

E a dignidade, cada vez mais pálida, precisando de uma "transfusão" de novos horizontes e sentidos.

Tal como os médicos responsáveis pelo parto do filho de vampiro no conto de CORTÁZAR, ainda há quem queira disfarçar o medo (ou será decepção?) com o que chegou ou ainda está por chegar

Pior de tudo só mesmo saber e concluir que todos os fantasmas (tal como certamente os "médicos" de DAVOS) sabiam que ali já tinha nascido um vampiro...

Porém uma coisa é certa:é matar ou, definitivamente, murir la muerte de los vampiros...

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