sábado, 7 de fevereiro de 2009

As janelas do dia de PABLO NERUDA...



O poeta chileno PABLO NERUDA (1904/1973), na sua obra “Cem sonetos de amor” (Nobel de Literatura em 1971), abre muito mais janelas que um primoroso romantismo voltado à sua “Matilde”. Suas metáforas combinadas com as estações e os elementos da natureza são pródigas e certamente capazes de deixar nosso interior em verdadeiro e inspirador “estado de aberto” (HEIDEGGER).
Afinal, como bem ensina a afetiva obra nerudiana, o “hoje, ontem e amanhã se comem caminhando”.
Ao apresentar sonetos divididos por fases na evolução do dia, possível interpretar que o poeta chileno quis registrar para a humanidade a importância de se descobrir o amor desde a primeira fração da manhã até o último suspiro da noite, diretamente, sem problemas, nem orgulho, certamente porque não saberemos fazer a paz (e amar) um mundo melhor de outra maneira.
Por essas e outras que, em tempos de liquidez (BAUMAN), alguns recortes destes preciosos “sonetos de madeira” precisam bater à porta de cada subjetividade em "pura substância", como bem já dizia NERUDA.
Que o sol da manhã brilhe um horizonte mais justo; que a equação do meio dia não nos tire o alimento do sonho; que a clareza da tarde e a aspereza da vida levem as cadeiras do salão perdido, afinal, logo chega a noite e precisaremos de lenha para continuar fazendo fogo na montanha, sempre na espera de um novo e renovado dia.

MANHÃ
E o sol estabeleceu sua presença celeste (...)
E aquela vez foi como nunca e sempre:
Vamos ali onde não espera nada
E achamos tudo o que está esperando (...)
E tudo vive para que eu viva:
Sem ir tão longe posso ver tudo (...)
E se constrói então de novo a claridade
Obedecem as coisas ao vento da vida

MEIO DIA
Meio dia estabelece sua equação no céu (...)
Divididos serão os pesares: a alma
Dará um golpe de vento, e a morada
Ficará limpa como o pão novo na mesa(...)
Esta simplicidade sem fim da ternura

TARDE
Como as cadeiras de um salão perdido (...)
As amargas alturas das cordilheiras conhecem meus passos(...)
E desde então sou porque tu és
E desde então és, sou e somos
E por amor serei, serás, seremos.(...)
A morte é só pedra de esquecimento
Tragamos lenha. Faremos fogo na montanha.

NOITE
Amor, dor, trabalhos, devem dormir agora
Gira a noite sobre suas invisíveis rodas(...)
Só a lua no meio de sua página pura
Sustém as colunas do estuário do céu (...)
Há que voar a cada instante (...)
Há que vencer os olhos de Saturno e estabelecer novos sinos
Já não bastam sapatos nem caminhos
Já não servem a terra aos errantes
Já cruzaram a noite as raízes”

2 comentários:

  1. Texto esplêndido, sobre um poeta que merece todo reconhecimento possível,PABLO NERUDA, ÚNICO E INESQUECÍVEL... NOTA MILLLLLLL POR ESTE POST.

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  2. Muito bom...gosto dessa leveza do Neruda contraposta aos seus textos mais ácidos e políticos...Abs. Julio Marcellino

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